Nossa História

A NOSSA HISTÓRIA: MÁRCIO VICENTE SILVEIRA SANTOS

22/10/22 - 08:00

Por Amauri da Matta

“Saudoso amigo, cuidador da história. Da arte e da cultura, de Sete Lagoas. A Casa dos Artistas Renê Guimarães vem exaltar a sua trajetória. Vai e continua a tua obra, junto daquele que tanto prezava. Inspira-nos a ajudar, nossos irmãos, com a poesia que tu tanto amavas. Diz bem alto, quando lá chegares: a vida não é breve, só muda de lugar. Nela as pessoas vão fazendo o bem, para encontrar a felicidade. Reúne teus depoimentos, não deixes que se percam aos ventos. Põe nas estrelas, neste palco iluminado, os mais belos sentimentos. Para alegrar os corações apaixonados” (Amauri da Matta, Julho de 2019). Essa poesia, transformada em música, escrevi em homenagem a Márcio Vicente, assim que ele nos deixou, numa triste manhã de segunda-feira (29-07-2019).

“Cuidador da história” é um título que lhe cabe muito bem! Aos 14 anos, Márcio Vicente já editava um jornal mimeografado. Em “Debaixo da Magnólia” (16-05-1992), reuniu casos de sua terra natal, alguns fictícios, que ouvia em frente à casa do avô, sentado no velho banco, sob uma árvore florida e perfumada. Segundo o autor, “lembranças de um tempo de jagunços aposentados, de carreiros sem emprego e tropeiros abandonados pelo progresso, mas que contavam suas estórias para um menino curioso” (Jornal de Sete Lagoas; 26 a 22-05-1992). Márcio cuidou da história ao presidir a Fundação Histórica e Artística de Sete Lagoas (Fhasete) e liderar o tombamento e a restauração do Casarão Chassim-Drummond, hoje Centro Cultural Nhô-Quim Drummond, situado na Praça Tiradentes. Brindou-nos com obras de grande valor histórico: Origens do Casarão (1980), 100 Anos de Imprensa em Sete Lagoas (1994), Nossa Terra, Nossa Gente (2002), Tiradentes em Sete Lagoas (2010) e Sete Lagoas, Século XVIII (2018).  

Promoveu a arte e a cultura ao participar da fundação do Clube de Letras de Sete Lagoas (1964), da instalação da seção local da União Brasileira de Trovadores (1968) e da fundação da Academia Sete-Lagoana de Letras (1982). Cuidou da arte e da cultura ao editar a obra “E o Poeta Falou”, do saudoso poeta Renê Guimarães, na qual reuniu as poesias do querido sogro (Editora Lemi, 1991). Grande admiração tinha por Renê Guimarães e suas poesias, sabidamente de profundo valor artístico. Incentivou-me a musicar esses poemas e a projetar o sonho da Casa dos Artistas Renê Guimarães. Liderou “a criação e a instalação da Fhasete - Fundação Histórica e Artística de Sete Lagoas”, sendo responsável, ainda, “pelos trabalhos iniciais na implantação do Cramam – Centro Regional de Artesanato Maria dos Anjos Macedo” (Assis Lima, Sal & Pedra, Rádio Eldorado; Crônica do Dia, 26-01-1990, 11:55 h).

Márcio Vicente também fez poesias: Vix (1964), Amostra (1965), Sal & Pedra (1990) e Pedra sobre Pedra (2006). Inspirou-nos a ajudar o próximo, com os seus contos em forma de poemas, ao publicar “Sal & Pedra” e doar o produto da venda, em partes iguais, à Creche Regina Apostolorum, de Sete Lagoas, e ao Asilo São Vicente de Paula, de Santana de Pirapama. A propósito dessa obra – lembra o saudoso e festejado colunista Jorge Maciel –, é “um livro universal”, pois trabalha “temas comuns a todo homem, em todo o tempo e lugar”, uma “obra notável pela concepção e realização, que traz aquela fluência espontânea que caracteriza o discurso poético de Márcio Vicente” (Jornal Boca do Povo, 27-01 a 02-02-1990). A mesma lição de bondade externou ao publicar “Dr. Márcio Paulino, Uma História Biográfica” (1997), e destinar toda a renda do livro ao Hospital Nossa Senhora das Graças. Mostra-nos, assim, como diziam os filósofos, que a felicidade se encontra nas boas ações que fazemos.    

Os depoimentos colhidos ao longo de sua caminhada, traduzidos nos artigos que escreveu – Jornais Alvorada (1960), Mensagem (1963), Correio de Sete Lagoas (1964), Centro de Minas (1967), A Notícia (1974), Hoje-Jornal da Cidade (1982) e Revista Fatoral (1997); nas entrevistas que concedeu (Programa “Frente a Frente, da ETV-Canal 58 – TV Educativa de Sete Lagoas); em livros e poesias publicados; nas homenagens recebidas; e no vasto material que a família guarda em casa, expressam, sem dúvida alguma, a memória valiosa de mais um belo capítulo de nossa história!

Amauri da Matta

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