A NOSSA HISTÓRIA: Grêmio Literário Dr. Avellar

Lendo as páginas de “O Buril”, jornal que circulou, entre nós, por dois anos e cinco meses (03-12-1914 a 06-05-1917), do qual era redator o jornalista Clarindo Cordeiro, li, em seu editorial, a reportagem de fundação do Grêmio Literário “Dr. Avellar”, que inspirou iniciativas literárias em nossa cidade. Pela sua importância histórica, reproduzimos a matéria, para satisfação dos leitores do Jornal Sete Dias:

30/03/24 - 08:00

“Por iniciativa de alguns rapazes, fundou-se, nesta, a 8 do corrente, um Grêmio Literário, denominado “Dr. Avellar”, por quererem, os seus fundadores, prestar uma homenagem a esse grande brasileiro e ilustre clínico, que em vida tanto lutou pelo engrandecimento de Sete Lagoas e de sua civilização. Presentes muitas pessoas, moços e senhoritas do nosso escol, reunidos num salão da Câmara Municipal, para onde foi convocada a assembleia, falou, abrindo a sessão, o advogado Cel. Joaquim Cândido Louzada, que, numa bela e comovente preleção, expôs os fins daquela reunião, enaltecendo, em frases verdadeiramente arrebatadoras, aquele saudoso morto cujo nome buscou-se para orago da novel associação. Falaram, em seguida, os Srs. Marciano Pereira da Silva e João da Silva Tão, recebendo, ambos, muitos aplausos, pelas sinceridades e eloquências de suas palavras. Tendo sido organizada uma diretoria provisória pelo Cel. Louzada, assim constituída: Presidente honorário: Dr. Mário de Lima; Presidente: Clarimundo Carneiro; Vice-presidente: Francisco W. Azeredo; Secretário: José A. Leão; Tesoureiro: Euclides Andrade; Bibliotecário: Joaquim Dias Drummond. O Presidente ofereceu a palavra ao distinto professor José C. Campos, que, gentilmente aceitando-a, patenteou os assistentes com uma bela peça oratória. Aceitando, depois, a palavra, a simpática e inteligente senhorita Eugeninha de Vasconcelos deslumbrou o auditório, recitando a incomparável poesia de Guerra Junqueiro “A Lágrima”. Esta bondosa senhorita, há pouco chegada de Belo Horizonte, aonde faz os seus preparatórios, acedendo gentilmente ao convite que lhe fora feito pela comissão encarregada, lá compareceu, abrilhantando sobre modo os festejos e dando prova de sua alta democracia. 


Levantou-se, então, o Presidente, e, declarando encerrada a sessão, convidou as pessoas presentes para, em romaria, irem fazer uma visita à campa do saudoso Dr. Avellar. Organizado o préstito, foi pela senhorita Eugeninha levado um lindo ramalhete de flores naturais, confeccionado e oferecido ao Grêmio pela graciosa menina Juju Tolentino. Chegados ali os admiradores do grande morto, falou à margem do túmulo, em frases recortadas de um puro sentimentalismo, o querido e apreciado orador, o Cel. Joaquim Cândido Louzada. Também orou o professor Marciano Pereira da Silva, que, discorrendo sobre a vida política do notável mineiro e genial poeta, saudou-o fervorosamente, declarando-se inconsolável. E todos, ali, perante aquele terraço, que encerra um tesouro, sentiam-se satisfeitos em poder prestar aquela homenagem que, embora humilde, era sincera à memória indelével do Dr. Avellar. Resta, agora, que a mocidade sete-lagoana, não se arrefeça desse entusiasmo com que se apresentou na fundação do Grêmio Literário, para que, em muito breve, possamos colher os louros que esta associação promete. Também porque precisamos de desmentir esses que ainda sustentam que nada aqui vai adiante. Esperamos, pois, poder sempre noticiar o progresso constante deste Grêmio, que, tão prometedor se apresenta, e nunca termos o desgosto de interrogar em vão por ele como por Idalina até interroga a Lanterna. União e perseverança!” (O Buril, “Órgão crítico, humorístico e noticioso”, Redator: Clarindo Cordeiro. Sete Lagoas, 17-12-1914, Número 6). 


Como lembrado por Márcio Vicente, Dr. Avellar “fundou uma companhia teatral e construiu o “Teatro Redenção” (...), deixou extensa obra literária, parte reunida no livro “Reminiscências de um médico” (Imprensa Oficial, BH, 1985). Foi também um dos precursores do Esperantismo no Brasil, tendo mantido extensa correspondência com os cultores dessa língua auxiliar em várias partes do mundo” (Sete Lagoas, 1894/1994, 100 Anos de Imprensa: os jornalistas de ontem e de hoje).       

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