Coluna Espírita

Estranha moral

04/02/24 - 07:00

Por Aloísio Vander

No capítulo vinte e três de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec reuniu algumas declarações de Jesus aparentemente contraditórias.
    Vejamos uma dessas declarações: (Mateus, 19:29): “Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna.”
    Analisemos o versículo acima, separando-o por partes.
    “Sua casa...” – todos nós possuímos uma casa mental, composta de três “pavimentos”. No primeiro, o porão, está o subconsciente ou inconscientes. No piso intermediário está o consciente e, no sótão, o superconsciente. No inconsciente está todo o patrimônio de nossa evolução, desde o momento em que saímos “das mãos do Criador” até a nossa última reencarnação passada. No consciente estão as nossas vivências atuais. E no superconsciente, temos as aspirações e ideais superiores. É onde labora o nosso Cristo interno.


    “Os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe...” – Dentro da nossa casa mental existem muitos moradores. Irmãos e irmãs são filhos de um pai e de uma mãe. Pai e mãe simbolizam razão e sentimentos da retaguarda, radicados em nosso psiquismo, desde múltiplas reencarnações. Seus filhos e filhas são seus frutos na vida atual (crenças, preconceitos, estereótipos, ideias e sentimentos arraigados), com algumas alterações mais ou menos expressivas, pelos contatos e influências externas que tiveram na vida presente. As expressões “mulher”, “genro”, “nora”, “sogra” (Mt, 10:35 e e Lc, 12:53) expressam essas influências externas.


    Quando o Mestre nos convida a “deixar” esses elementos por seu nome, está nos convocando a permitir que a superioridade do nosso Cristo interno prevaleça sobre todos esses outros elementos residentes na casa mental, não mais permitindo que eles nos dominem. Se Jesus estivesse afirmando que para segui-lo fosse necessário romper com a família biológica ou mesmo espiritual, estaria contradizendo o quarto mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe.”
 

Aloísio Vander