Colunista Convidado | Muitos são os vírus que adoecem a nação

18/09/20 - 12:00

Certa vez Winston Churchill, em campanha eleitoral, ouviu de um cidadão o seguinte: “Votar em você? Por qual razão? Eu prefiro votar no Diabo.” Ele então respondeu: “Eu compreendo. Todavia, caso seu amigo não esteja concorrendo, eu poderia contar com seu apoio?”

 

Nosso país está sob ameaça de diferentes vírus, capazes de nos levar a um grave estado de prostração política, social e econômica. O covid-19 é sem dúvida um deles. Diante de cadáveres que se empilham por causa dessa pandemia horrorosa somos ainda forçados a conviver com a polarização política, que se manifesta através da idolatria e a criação de mitos, heróis, ídolos.

 

Muitos me conhecem, sou tabeliã, professora de direito constitucional, e gosto muito de política pois acho que essa é a forma civilizada de resolver as diferenças normais que existem na sociedade. Eu já errei. Já fui militante, já achei que o político do meu partido estava sempre certo e o político do outro partido estava sempre errado. Já perdi muito tempo brigando enquanto poderia estar dialogando, compreendendo que as pessoas são diferentes e que essa diferença é fundamental. Hoje sei, e todos deveriam saber que todos nós temos os mesmos adversários: o analfabetismo, a burocracia, a corrupção, o engarrafamento, a miséria, a pobreza, a poluição... É contra esses problemas que todos deveriam brigar.

E assim, enquanto famílias choram por um outro vírus sem sequer poder enterrar suas perdas, um sentimento de tristeza me vem e junto com ele uma dúvida: Será que não podemos contribuir para mudar isso tudo? 

 

Ser de direita ou de esquerda não te faz melhor que ninguém. Quando se pergunta a essas mesmas pessoas sobre um mesmo tema/assunto, nota-se que há muito mais concordância nas pautas do que o ambiente de diferenças ideológicas parece mostrar. Numa democracia pontos de vista diferentes convivem. Numa democracia a política é a maneira de resolver problemas de forma coletiva. É isso que eu ensino para meus alunos.

 

Estamos cansados de pessoas que se candidatam, prometem e não cumprem. Por isso fica aqui a minha sugestão para quem vai disputar a eleição deste ano: prometa apenas aquilo que lhe caiba, proponha políticas públicas baseadas em evidências, em outras palavras, vá buscar e conhecer os problemas da sua cidade, poucas causas robustas são melhores que muitas vagas, é também fundamental deixar claro seu plano de mandato com o eleitorado para firmar com ele um compromisso de atuação.

Por ora, enquanto se pesquisa uma vacina para o mal biológico, seguimos combatendo a desinformação, em espaços como este, através do jornalismo, e também nas redes sociais, nos almoços de domingo, nas salas de aula, na certeza de que conhecimento, educação, participação política são remédios eficazes contra os males da polarização e do totalitarismo, cujos sintomas se fazem mais presentes a cada dia.

 

Marília Oliveira Leite Couto 

Tabeliã e Professora, Mestre em Direito Constitucional

 

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