Padre Evandro Bastos
Muitos movimentos da nossa existência seguem ritmos rotineiros que costumamos chamar de “normais”. O comum de cada dia, o ordinário da vida, a mesmice não nos deixa ver a novidade, nem se desafiar no extraordinário ou realizar uma mudança para tentar experimentar e viver a transformadora oportunidade de vida nova que a proposta cristã nos traz. A grande maioria dos batizados não se abre para permitir que o novo de Deus aconteça na história de suas vidas. Contraditório com o Evangelho, entretanto, mais comum do que pensamos.
O movimento de saída da rotina e quebra da acomodação exige uma elevação. Isso mesmo: quanto mais acomodamos ao de sempre, maior a nossa condição rasa na jornada. Portanto, é preciso “subir a montanha”, elevar-se às coisas do alto, procurar uma intimidade orante em uma espiritualidade que desinstala. Não existe uma receita! Cada pessoa é chamada a entender como processos de elevação vão se dar na própria vida. Alguns são inspirados por práticas de piedade, outros por pregações e testemunhos, outros por ações de cuidado e compromisso sociotransformador, e muitos outros vão se inspirar no convite missionário. Há muitos caminhos e projetos para um “subir a montanha”.
Depois, acontece uma transformação tão profunda que chega a ser incompreensível. É muito estranho o olhar brilhante, a face transfigurada, as vestes iluminadas, todo o ser plenificado pela Graça. É uma força incrivelmente realizadora da obra de Deus que já mora na história e se revela pelo conhecimento e memória, e depois convoca ao reconhecimento do Amor: “Meu Filho Amado”!
O Evangelho da transfiguração é um relato incrível de como o tempo de conversão pode nos conduzir ao infinito amor misericordioso de Deus. Subir a montanha com Jesus, contemplar Sua face transfigurada, ouvir a declaração de amor e seguir alimentado pelo grande anúncio da vida que salva é privilégio, oportunidade imperdível. Aproveite este Ano da Graça, e agora especialmente, esta quaresma. Abra o coração e viva com confiança e entrega este tempo.
