Com a chegada do período chuvoso, a cidade de Sete Lagoas intensifica suas ações de prevenção e resposta a emergências climáticas. O Corpo de Bombeiros Militar, em parceria com a Defesa Civil Municipal, tem trabalhado na identificação de áreas de risco, capacitação da população e implementação de sistemas de alerta. Apesar do progresso contínuo, desafios como a urbanização desordenada e as características geológicas da região ainda representam grandes obstáculos. Confira a entrevista com o Tenente Eduardo Costa, que aborda as estratégias em curso, os principais pontos críticos e orientações para situações de emergência.
SETE DIAS – Sete Lagoas está devidamente preparada para enfrentar os períodos mais chuvosos do ano?
TEN. Eduardo – A cidade tem progredido de forma contínua na implementação de estratégias de gestão de risco de desastres, com ênfase na prevenção. Esse avanço está alinhado com o amadurecimento progressivo obtido por meio de intensos programas de treinamento e capacitação promovidos pela Defesa Civil Municipal, em colaboração com o Corpo de Bombeiros Militar e outros órgãos competentes. Contudo, é importante destacar que os fenômenos climáticos extremos têm se intensificado no atual século, o que torna imperativo que a capacitação e a execução de obras preventivas sejam processos permanentes e em constante evolução.
SD – Quais são as principais deficiências da cidade no enfrentamento de alagamentos e erosões?
TEN. Eduardo – O processo de urbanização tem ocasionado uma extensa impermeabilização do solo, o que contribui para o aumento de áreas suscetíveis a alagamentos, e Sete Lagoas não está imune a esse fenômeno. No que tange às erosões, o município enfrenta desafios devido à presença de solo cárstico, composto por rochas calcárias suscetíveis à dissolução pela água subterrânea. Adicionalmente, a ocupação desordenada do solo, com construções em áreas inadequadas, agrava ainda mais a vulnerabilidade aos processos erosivos.
SD – Existe um mapeamento das áreas mais críticas? Quais
bairros ou regiões demandam maior atenção?
TEN. Eduardo – Sim, este mapeamento é feito juntamente com a defesa civil municipal. E podemos citar alguns bairros como Canadá e Padre Teodoro (enchente\inundação), Bairro Itapuã e Santo Antônio (deslizamento) e alguns pontos de alagamentos como Avenida Boqueirão, Avenida Salvo Sanches Drumond (Belo Vale) e Rua Equador.
SD – O novo sistema de alertas da Defesa Civil de Minas Gerais, enviado via celular, pode fazer a diferença na proteção da população?
TEN. Eduardo – Sim, o novo sistema de alertas da Defesa Civil de Minas Gerais, enviado via celular, tem o potencial de ser uma ferramenta importante na proteção da população. A transmissão imediata de alertas por meio de dispositivos móveis permite uma comunicação rápida e eficiente sobre riscos iminentes, como enchentes, deslizamentos ou tempestades severas. Isso possibilita que os cidadãos tomem ações preventivas em tempo hábil, como evacuação de áreas de risco ou adoção de medidas de segurança. Além disso, a disseminação de informações em tempo real contribui para a organização das autoridades locais e de equipes de resposta a emergências, otimizando a coordenação e a mitigação de danos. A eficácia do sistema dependerá da sua cobertura, da atualização constante das informações e da conscientização da população sobre a importância de seguir as orientações enviadas.
SD – Em situações de emergência, como um carro sendo arrastado por enxurradas, qual deve ser a conduta correta do motorista e dos passageiros?
TEN. Eduardo – Sei que é difícil manter a calma, mas essa simples ação é fundamental. O passageiro deve ligar 193, abrir os vidros do veículo e se manter dentro dele, já se a água passar da altura da metade da porta, o passageiro deve se dirigir para teto do veículo, pois assim melhora a visualização da equipe de resgate. Importante salientar, que caso haja uma pane elétrica e os vidros travem, o cidadão pode retirar o encosto do veículo e quebrar os vidros utilizando a parte de metal do próprio encosto.
SD – Quais medidas o Corpo de Bombeiros tem adotado para capacitar prefeituras e cidadãos na prevenção e resposta a situações de calamidade?
Tem. Eduardo – O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) desempenha um papel estratégico na gestão do risco de desastres, especialmente durante o período chuvoso. O CBMMG implementa ações voltadas à Redução do Risco de Desastres (RRD), com foco nas fases de prevenção, mitigação e preparação. Isso inclui a realização de monitoramentos operacionais em parceria com as Defesas Civis, o mapeamento de áreas de risco, a condução de simulados e a oferta de treinamentos e capacitações direcionados à população residente em zonas vulneráveis. Além disso, o CBMMG desenvolve iniciativas educacionais, como o projeto “Bombeiro nas Escolas”, visando a conscientização e preparação das comunidades para situações de risco.
SD – Jequitibá frequentemente sofre com enchentes e alagamentos. Quais outras cidades da região são motivo de preocupação e como estão se preparando?
TEN. Eduardo – A 5ª Companhia Independente é composta por dois pelotões, sendo o 1º Pelotão responsável pela cidade de Sete Lagoas e por mais 12 municípios, totalizando 13 localidades sob sua jurisdição. Embora todas as cidades exijam atenção, algumas apresentam características que demandam cuidados especiais. Entre elas, destaca-se Cachoeira da Prata, devido à presença de terrenos íngremes na região e ao ribeirão que corta a cidade, fatores que potencializam os riscos de desastres. Matozinhos também necessita de atenção redobrada, em razão das áreas com dolinas e dos bairros que apresentam deficiências no sistema de drenagem pluvial.
SD – Qual é a previsão climática para a reta final de 2024? As condições meteorológicas influenciam diretamente as estratégias do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil?
TEN. Eduardo – Segundo os órgãos oficiais de meteorologia, a previsão para o final do ano aponta para chuvas dentro dos padrões climáticos históricos, o que significa que podem ocorrer temporais e volumes significativos de precipitação em períodos curtos, fenômeno comum nesta época. Essas previsões são fundamentais para a Corporação e para a Defesa Civil, pois servem como base para o planejamento e direcionamento das ações, especialmente nas áreas de prevenção e mitigação de riscos.
SD – Qual foi o histórico de ocorrências em Sete Lagoas nos últimos anos (2023/2024) em relação a desabrigados, pessoas retiradas de suas casas e outros impactos causados pelas chuvas?
TEN. Eduardo – 12 famílias sendo 16 pessoas desabrigadas e uma família desalojada com 3 pessoas. Os dados foram cedidos pela Defesa Civil Municipal de Sete Lagoas.