por Aloísio Vander
É de Mark Twain a frase: “Nada precisa tanto de reformas quanto os hábitos dos outros.”
Twain ironiza o fato de querermos reformar apenas o mundo exterior. Vigiamos as pessoas ao nosso derredor, procurando e identificando falhas de toda a sorte, a fim de recomendar a seus portadores as posturas corretas a serem adotadas.
E quanto a nós? Será que a reforma dos outros é o suficiente para nos fazer felizes também? Os defeitos que carregamos deixarão de nos incomodar, pelo simples fato de não os vermos mais refletidos nos outros?
Se o outro melhorou, quem conquistará a felicidade e a paz é ele e não nós. Nem o outro nem ninguém pode nos transferir os seus valores. Quando Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”, para não dar margem a interpretações equivocadas, complementou: “não vo-la dou como o mundo a dá”, levando-nos a entender que a paz que ele outorgava aos discípulos e, por extensão, a todos nós, consistia no seu exemplo de amor ao semelhante, evidenciando para nós que a conquista da paz íntima é filha legítima da consciência tranquila do dever bem cumprido.
Postergável por tempo determinado, mais dia menos dia, seremos chamados a construir o reino de Deus por dentro de nós mesmos.
Recordo-me do caso do garoto cujo pai, para entretê-lo enquanto recebia uma visita inesperada, propôs ao filho montar um quebra-cabeças. Assim, o pai arrancou de uma revista a figura do mundo, picou-a em muitos pedaços e a deu ao filho para que a remontasse. Mal iniciara a conversa com o visitante, o filho já o chamava para dizer que havia terminado a tarefa. Surpreso, o pai perguntou como ele havia conseguido “reformar” o mundo tão rapidamente, ao que o garoto respondeu: Ora, papai, eu virei os pedaços do lado contrário e, ao aproximá-los, notei que formavam a figura de um homem. Eu “reformei” o homem, virei-o do outro lado e notei que o mundo estava “reformado”.
Eis a lição: reformem-se os homens e o mundo estará reformado. Mas não esqueçamos nunca que a reforma dos homens cabe a cada um em particular.
