Pelos caminhos da vida

Leio, com carinho, a história dos seus antepassados. Depois escrevo essas linhas, para contar os fatos, rever cenários e despertar sentimentos. Saudades de um tempo que retorna na lembrança. De nossa família, de nossa infância, dos amores que nos deram a vida. O personagem se transforma, em cada um de nós, nas viagens que este breve artigo nos permite realizar. Um momento de aconchego em nosso caminhar. Tudo renasce! No alvorecer de mais um ano, de mudanças e inquietações, é sempre bom voltar no tempo … E recordar!

Como fez Vera Campolina, ao lembrar de sua infância, quando tinha seis anos de idade e morava com os avós maternos – Francisco Lopes Filho (“Papai Inquinho”) e Guilhermina Campolina de Sá (“Didi”) – na Fazenda Aroeira, região de Fortuna de Minas. Também lhe faziam companhia Laurinda, a cozinheira da casa, e Tina, sua auxiliar, “mãe do Monsenhor Carlos”, como ressaltou. A sede da fazenda era toda branca, com as janelas azuis: banheiro, cozinha, despensa, duas varandas, quatro quartos, mais um para os forasteiros (independente), sala de jantar e sala de visita. O fogão rústico, para preparo dos doces e do angu dos cães de caça. O forno d barro, de assar as fatias, os pães de queijo e os biscoitos. A fornalhinha, onde se faziam os guisados. Mais afastados ficavam o porão de dois cômodos, o quarto dos arreios, o monjolo, o paiol, o pomar e o curral. A memória de Vera viaja no tempo … No Natal, a reza do terço com a família, junto ao presépio, montado na varanda da frente. As pescas no açude. O passeio nos dois córregos. O apreciar dos canarinhos. O abate dos porcos … Vera corria para não ouvir os gemidos dos animais. Os dias de venda do gado: atração. As novelas das oito, pelo rádio. Os bezerros nasciam e eram batizados com os nomes dos personagens. O incêndio no paiol: travessuras de seus irmãos e primos. Da Fazenda das Aroeiras, Vera é conduzida à Fazenda da Cava, de seus avós paternos: Mamãe Maria e Papai Lelé. As fazendas eram vizinhas A casa ficava na parte baixa da fazenda. O pomar de laranjas. As lavouras. O engenho: “o melaço escorria numa bica de madeira, a gente passava o dedo e enrolava aquele cordão quase açucarado, até fazer uma bala puxa-puxa: era uma delícia!”, registra.
Quando Vera e seus irmãos vieram residir em Sete Lagoas, com os pais Rodolpho Campolina Marques e Inilta Campolina Lopes, moraram numa casa alugada, na Avenida Coronel Altino França, esquina com a Praça Francisco Sales. Ali, na beira da lagoa. Pouco tempo depois, eles construíram a própria casa, na Praça Wilson Tanure, onde hoje existe um estacionamento, bem atrás da Praça do CAT (Centro de Apoio ao Turista). Vera Campolina fez o curso primário no Grupo Arthur Bernardes. A sua viagem no tempo continua … Os jogos de futebol, em frente à residência. Na praça. Era goleira. Os jogos de peteca. Os tombos, ao aprender andar de bicicleta. A atração dos circos, que chegavam à cidade e ficavam bem ali na praça. As brigas com os meninos do outro bairro. As missas de domingo … Como era chique ir à igreja. Os pés de jabuticaba, na chácara alugada, e o passar de uma árvore à outra. Era muito bom! As brincadeiras de bandido e mocinho. De cabra-cega. A satisfação de andar nas águas da Lagoa Paulino, quando transbordavam, formando uma nova lagoa bem em frente à sua casa. O ginásio no Colégio Sacre-Coeur de Marie, em Belo Horizonte. A mestra da classe, que pedia para Vera sapatear, que aprendera vendo os filmes de Shirley Temple, no auge do sucesso. As notas que tirava, em primeiro lugar. Enfim, o seu grande amor: “Fico emocionado com a leitura de sua história e, ao mesmo tempo, orgulhoso de seus escritos, deixados aqui com a suavidade da entrega de uma flor aos seus amigos e entes queridos. Nossa união, sagrada sob as bençãos divinas na Matriz de Santo Antônio, naquela tarde chuvosa e memorável de dezembro – vê-se agora com clareza -, fundiu duas almas sensíveis numa vida cheia de lutas, de alegrias e de emoções, em que se juntaram os filhos queridos, os pais, os parentes e os amigos saudosos, no ritmo eterno do tempo” (Afrânio de Avelar, em Prefácio, pág. 09. Vera Campolina Marques Ferreira, Pelos Caminhos da Vida. Belo Horizonte: Mazza Edições Ltda., 2005). Como é bom recordar!