Free Guy – Assumindo o Controle: um filme acima da média do gênero 

11/10/21 - 10:22

Wellberty Hollyvier D’Beckher

O filme do diretor Shaw Levi (das trilogias Uma Noite no Museu e Gigantes de Aço) é uma grande paródia do mundo real em forma de vídeo game. Temos ali a inércia de algumas pessoas, a prostração diante da vida, personagens que levam a vida sempre com bom humor e aqueles idealistas que querem mudar o mundo, tudo isso discutido do ponto de vista de personagens de um vídeo game de mundo aberto.

O filme tem uma profundidade impressionante para discutir assuntos caros da nossa sociedade, ele mete o dedo nas feridas de um mundo cansado da mesmice e que clama por mais, por mais identidade, por mais personalidade, por mais idealismo e, acima de tudo, por uma voz própria. Hoje estamos cansados do velho, que seja do velho pensamento da sociedade, de pensamentos atrasados da igreja, de uma velha política que é mais do mesmo. Nossa sociedade está acordando e, com ela, a arte e o cinema são suas vozes mais escutadas e debatidas.

Tudo começa quando Guy (Ryan Reynolds) reage a um assalto no banco em que trabalha. O assaltante usa óculos e, no mundo de Guy, pessoas de óculos são intocáveis. Ele então coloca o óculos e descobre que na verdade ele é um NPC (Personagem não jogável dentro de um vídeo game, tipo aqueles personagens andando na rua de GTA que a gente dá porrada e ganha pontos). Ele tem um sonho recorrente com uma bela mulher, e ele a vê no jogo, Millie (Judie Comer). Ela, em um primeiro momento, não percebe que ele é um NPC e o incentiva a ganhar pontos e ir passando de nível para, então, ter uma chance com ela.

E Guy consegue muitos pontos, mas não é adepto da violência. Os pontos que conquista são impedindo assaltos e crimes. Logo, seu personagem ganha a simpatia do público do gamer e preocupação para seus desenvolvedores, que não sabem como um NPC pode estar fazendo tais coisas. O que Millie tenta no jogo e avançar para o último nível em uma sala secreta e pegar um código que prove que aquele jogo foi feito baseado em conceitos de um jogo que ela desenvolveu para uma empresa e que foi rejeitado. Em sua busca pela verdade, ela acaba se apaixonando por Guy, mas depois descobre que ele não é um jogador do mundo real nem um NPC, ele é na verdade a primeira inteligência artificial construída por ela e seu sócio no antigo jogo rejeitado. Guy é remanescente daquele seu jogo.

A transição entre o mundo real e vídeo game é muito bem feita, o filme mistura diversos gêneros, como ação, comédia, suspense, drama e romance, tudo tão bem tramado, tão bem executado que você esquece que está assistindo uma ficção cientifica, esquece que é um filme de vídeo game. Os personagens são ultra dimensionais, com camadas de emoções muito bem construídas. O filme flui bem do início ao fim, você compra tanto a história que passa a torcer por seus personagens e contra o vilão.

É impressionante a imersão que o filme causa. Shaw Levi realiza aqui seu melhor trabalho como diretor, seu filme é tudo que promete na sinopse e mais alguma coisa, é inegável o talento do diretor em criar cenas que cativam o público e que em alguns momentos nos fazem levantar da cadeira. À medida que o filme avança e gente vai se perguntando: como amarrar tantas pontas soltas? Mas o diretor faz isso com maestria, nada fica sem resposta ou resolução. É um filme dinâmico, consciente do que se propõe, de um diretor maduro no auge da sua criatividade. Resumindo: uma bela experiência cinematográfica.

O filme pode ser visto nos cinemas. Nota 9\10

 

imagemWellberty Hollyvier D’Beckher é formado em artes cênicas pela UFMG, pela faculdade do Rio de Janeiro em crítica e análise de filmes, além de cinéfilo desde os dez anos de idade.

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