Nossa História - Doutor Márcio

02/03/22 - 08:53

Dr. Márcio Paulino. Foto: Acervo Retalhos do Passado/Dalton Andrade
Dr. Márcio Paulino. Foto: Acervo Retalhos do Passado/Dalton Andrade

Amauri Artimos da Matta

"Eu escrevo com lágrimas estas linhas, que a saudade me dita e obedeço! As dores tuas são iguais às minhas, de igual fonte de estima e igual apreço! Com ele tu tiveste o que não tinhas: – Um amigo em cada dor, cada tropeço! E que há de ser de tuas criancinhas? De teus humildes pobres? Desconheço … Um vigilante apóstolo do Bem, ele soube ser bom como ninguém: – Um Francisco de Assis em seus desvelos! Choremo-lo! Mas tenhamos em lembrança, que já nos Céus, na Bem-aventurança, ele ouvirá melhor nossos apelos! (SONETO A MÁRCIO, Carlos Philinto Prates, Belo Horizonte, 14-01-1961). 

É muito difícil escrever, em poucas linhas, sobre alguém tão importante na história de Sete Lagoas. O soneto feito em homenagem ao Dr. Márcio Paulino, por seu primo Carlos Prates, um dia após a sua morte, utilizo como resumo de um capítulo de sua obra. Do médico que ficou conhecido como “apóstolo da caridade” ou “sacerdote da medicina”, expressões que mostram o amor ao próximo no exercício da profissão. E que, por isso, deixou saudade. De alguém que, sentindo a dor do paciente, refletida em seu coração, fez dele um legítimo representante da classe médica e da missão que jurou cumprir. Era amigo dos pobres. Na sede atual do Hospital Nossa Senhora das Graças, que idealizou e ajudou a construir, Márcio Paulino “chegava às primeiras horas úteis da manhã” e “havia sempre um grande número de pessoas” à sua espera, “a maioria indigentes vindos da periferia e do interior do município. Era “uma fila imensa, que crescia a cada dia, a cada mês e a cada ano, como revela Irmã Lourdes, que começou a trabalhar com ele em 1940”. “Ele recebia a todos com o mesmo carinho, a mesma atenção. Quando havia gente demais, reunia os colegas e sentenciava: vamos dividir, comenta a freira”. 

O historiador Márcio Vicente dos Santos conta, ainda, que o médico “dava bilhetes para que o paciente pobre pegasse o remédio na farmácia do Hospital ou tirava do próprio bolso a importância necessária para que a receita fosse aviada numa drogaria da cidade” (DR. MÁRCIO PAULINO, Uma História Biográfica, pág. 53. Belo Horizonte, Rosa Editora, 1997, 253 páginas). O mesmo ocorria em sua residência. O telefone ficava no quarto do casal, para atender aos chamados urgentes. A campainha da casa, de som estridente, era para acordar o médico, durante a noite, caso fosse preciso atender algum paciente no consultório. As curas que realizava ou a forma como diagnosticava as doenças – muitas vezes sem tocar o paciente – fazia com que as pessoas acreditassem em algo divino. 

Certa feita, ao ver o casal Afrânio Avellar e Vera Campolina conversando na calçada, em companhia do filho Rodolfo, de três anos, pediu a ela um copo d’água, e aproveitando-se de sua ausência, disse ao amigo que o seu filho precisava de tratamento urgente, pois estava com nefrose. “– Mas como, Márcio? – espanta-se o engenheiro. – Passei e vi – disse o médico” (Obra citada, pág. 106). Realizada a consulta e o tratamento, o diagnóstico estava correto e o menino foi curado. Não foram poucas as vezes que Márcio Paulino visitou Chico Xavier, em Pedro Leopoldo. Como Francisco de Assis, citado no soneto de Carlos Prates, é considerado santo por muitas pessoas. Espírita também. Na última sexta-feira, conversando com Sérgio Paiva, neto de José Duarte de Paiva, que era sogro de Márcio Paulino, ele disse que até hoje o médico opera no Hospital Nossa Senhora das Graças! Quer dizer: mesmo tendo falecido no dia 13 de janeiro de 1961, ainda continua fazendo parte da nossa história!

AMAURI ARTIMOS DA MATTA é Promotor de Justiça aposentado, diretor do Grupo Mão Amiga e presidente do Coral Dom Silvério

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