Sete Dias Indica

Manhãs de Setembro - Representatividade em tela

30/07/21 - 15:06

Por Sétima Arte

Wellberty Hollyvier D’Beckher

A série narra a história de Cassandra (Liniker), uma mulher trans fã da cantora Vanusa (daí o nome da série). Ela trabalha fazendo entregas com sua moto, mas a música, a boa música, corre por suas veias e ela põe para fora seus sentimentos cantando em uma boate. Tudo parece indo bem na sua vida, ela está em bom momento da carreira, conseguiu seu primeiro apartamento e tem um namorado carinhoso, Ivaldo (Thomas Aquino). Sua vida calma e pacífica muda com a chegada de Leid (Karina Telles, monstruosa em cena) dizendo que tem um filho de 10 anos com Cassandra.

Logo de cara, Cassandra desgosta da ideia de ser pai de uma criança que ele nunca quis e nem sabia da sua existência. Leid apresenta a criança a ela por insistência do garoto de conhecer o pai, mas ao ver que ele agora é uma mulher, tem a reação que só uma criança em tal situação poderia ter: ele fica maravilhado com a figura exótica do pai e logo nutre um carinho por ele, que não é correspondido em um primeiro momento.

Liniker se sai bem como Cassandra. Por já ser uma mulher trans, ela não teve dificuldade com o personagem, tem um olhar expressivo e uma bela voz, mas ela como cover de Manhãs de Setembro, da Vanusa (que conversa muito com Cassandra durante a série), enfraqueceu o primeiro episódio, já que sua versão da música não é boa. Ela também “estraga” Paralelas, de Belchior. Esses tipos de músicas, tão icônicas na voz de seu artista original, são um risco muito grande de serem cantadas por outra pessoa, principalmente quando esta pessoa tem uma voz comum, sem nada de especial, aquela pessoa que cantando no chuveiro ou no palco a tonalidade de voz é a mesma, o que infelizmente acontece aqui. Gosto muito da música Ralador de Pia, cantada por Liniker, mas com os arranjos, a letra e os vocais, poderia ser cantada por qualquer outro cantor que a experiência seria a mesma. Liniker tem uma voz bonita, mas nada de especial.

A série conta a história de Cassandra, mas quem rouba a cena e Leid. Karina Telles faz aqui a melhor atuação de sua bela carreira. Leid mora nas ruas dentro de uma Belina que não roda mais. Ela e o filho vendem coisas, como balas, salgadinhos e fones do Paraguai. Eles lutam e muito para terem uma vida no mínimo digna, mas nem sempre conseguem. Eles passam dias sem tomar banho e há uma cena do menino na escola em que uma coleguinha fala que ele está fedendo, mas ela mesmo justifica que meninos são mais porcos que as meninas. Sem se dar conta, ela ameniza uma situação que poderia ficar delicada, mas a ingenuidade das crianças é maravilhosa.

O menino faz um grande esforço para ganhar o carinho do pai, mas Cassandra definitivamente não quer criar laços com o menino. Em uma situação, ele é deixado por um dia aos seus cuidados, contra a sua vontade, na boate. O menino fica encantado vendo o pai cantar, depois do ensaio ele sobe ao palco e tenta imitar o pai, mas não sabe a letra da música e se atrapalha. Cassandra, ao ver a cena, abre um sorriso. Ela só chama o menino por adjetivos pejorativos, mas um dia, sem querer, ela o chama pelo nome e o menino vibra de alegria. O pai finalmente começa a ceder e demonstra um pouco de carinho. 

A série ainda conta com Gero Camilo, Paulo Miklos e Lin da Quebrada. Manhãs de Setembro só não leva um 10 porque há problemas na edição de som, com momentos que a gente não entende o que os personagens estão falando, considerado uma falha grave. A série é pequena, com apenas 5 episódios de meia hora cada. A gente assiste em uma sentada.

A série pode ser vista na Amazon Prime. Nota 9\10

imagemWellberty Hollyvier D’Beckher é formado em artes cênicas pela UFMG, pela faculdade do Rio de Janeiro em crítica e análise de filmes, além de cinéfilo desde os dez anos de idade.

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