Ocupação Cidade de Deus à espera de uma solução

Cerca de 97 pessoas que residem na denominada Ocupação Cidade de Deus podem ser realocadas no ginásio Ginásio Vinicio Dias Avelar, no bairro Nova Cidade, ou em escolas municipais no Bernardo Valadares ou Orozimbo.

19/04/21 - 08:36

Famílias precisam de doações, desde gêneros alimentícios até roupas e material para reforçar as moradias
Famílias precisam de doações, desde gêneros alimentícios até roupas e material para reforçar as moradias

Celso Martinelli

Passadas as eleições municipais do ano passado, quando eram visitados por diversos candidatos a vereador e prefeito, os desabrigados que ocuparam área pública na Cidade de Deus clamam por ajuda e aceitam doações de toda natureza. E mais: esperam solução definitiva para a questão da moradia. Com a crise provocada pela Covid-19, muitas delas perderam suas fontes de renda e as condições de pagar aluguel, com a rua sendo o único destino. Hoje cerca de 97 pessoas residem na denominada Ocupação Cidade de Deus (CDD).

Formada em magistério, Rosemeire Aparecida Gonçalves Barbosa, 51 anos, é uma das referências do movimento e mora de forma improvisada. Ela carrega consigo uma história de sofrimento que a fez tornar-se parte da ocupação. “As pessoas se viram debaixo de lona ou casas que foram construídas com madeirite (ou compensado). Com o frio chegando, toda ajuda é bem-vinda. Somos crianças, idosos, mulheres e homens que perderam sua fonte de renda. A maioria está em busca de emprego ou vivendo de “bicos”. Precisamos de roupas, material de limpeza e higiene para as casas, alimentos e, também, uma solução”, afirma.

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Com muitas crianças em fase de alfabetização, os adultos formados e com algum conhecimento se tornam professores dos pequenos. No local, uma escola foi edificada com compensado e livros arrecadados ajudam no processo educativo. Através do endereço ocupa_cdd (Instagram) é possível conhecer mais sobre o movimento. Os telefones de contato para quem quiser conhecer ou ajudar: (31) 97172-2872 (Ana Cecília), 99508-7967 (Camila), 99817-8197 (Flavinha) e 99925-4990 (Rosemeire). 

PREFEITURA

A Prefeitura de Sete Lagoas - por meio da Procuradoria Geral do Município - informa que o terreno ocupado se trata de área pública com parte de área verde. “A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos já realizou diagnóstico das famílias, vem assistindo àquelas que possuem o Cadastro Único e incluindo as que ainda não possuem o benefício. Além disso, ofereceu abrigo àquelas pessoas que não tinham onde morar, mas até o momento nenhum ocupante se interessou”, informou assessoria da Prefeitura em nota enviada à redação.

imagem“Duas reuniões de conciliação foram realizadas em conjunto com a Polícia Militar, representantes da ocupação e da Prefeitura. Ainda no ano passado, o Município entrou com ação de reintegração de posse na Justiça, a liminar foi deferida e confirmada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Aguarda-se, agora, o planejamento da Polícia Militar para o cumprimento da ordem”, conclui.

Uma decisão judicial proferida pela juíza Wstânia Barbosa Gonçalves determina a reintegração de posse do terreno e o município vem tentando realocar as famílias antes que as forças de segurança cumpram a desocupação do local.

Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura, foram oferecidos aos ocupantes o Ginásio Vinicio Dias Avelar, no bairro Nova Cidade, e as escolas municipais Dalva Ferreira Diniz, no Bernardo Valadares, e Professor Edson Abreu, no bairro Orozimbo Macedo.

Opinião

Um outro olhar

Heitor Lanza e Barros, 12 anos
Estudante do Coleguium


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Durante minha visita a Ocupação da Cidade de Deus percebi algumas coisas sobre o cotidiano das pessoas que moram lá. Me perguntei se elas são felizes, mas eu acho que são, sim, apesar de não terem uma boa qualidade de vida. Mas acho que na medida do possível, elas são felizes ou pelo menos tentam ser.

Os ocupantes do local moram sob pequenas tendas feitas de lonas e ripas de compensado, nas quais não podem ter uma boa privacidade, nem para fazer coisas simples, como tomar banho ou trocar de roupa. 

É gritante a situação no local em relação à educação que as crianças da ocupação têm. Acho bastante injusta, pois os pais que estão tendo que se juntar para dar uma boa educação aos seus filhos mesmo com poucos recursos. A escola em si não é nada preparada para lidar com as crianças que precisam de aprender. Isso por conta da situação financeira prejudicada para estruturá-la.  

Acho que a prefeitura tem que dar pelo menos um apoio básico na educação, com professores, carteiras, máscaras e livros educativos que atendam a faixa etária dos estudantes. A educação e a escola que eles recebem nem de longe se compara com as que eu recebo, e isso me deixa muito triste.

Como lição que tirei depois de visitar a ocupação, passei a agradecer mais as coisas que tenho, minha família, minha casa, meu quarto e tudo que tenho em volta de mim.

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