“Devemos aprender que não dá para brigar com a chuva, primeiro passo é respeitar a natureza”

Em entrevista, o secretário e ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, falou sobre dificuldades de municípios com a cheia do Rio das Velhas e ressaltou a importância das cidades terem e executarem seu Plano Diretor

14/01/22 - 14:49

Casal de idosos foi resgatado em Fortuna de Minas  pelos Bombeiros
Casal de idosos foi resgatado em Fortuna de Minas pelos Bombeiros

Roberta Lanza

A cheia e transbordamento do Rio das Velhas, o mais importante curso d'água da cidade e região, atingiu moradores de diferentes municípios vizinhos. Dentre elas, sofreram com as chuvas, principalmente, Jequitibá e Fortuna de Minas, além de Sete Lagoas, onde foram registradas as principais ocorrências.

O secretário e ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, falou sobre a situação dos mananciais e a cheia do Rio das Velhas. “São anomalias climáticas que prometem ser recorrentes. Foram três anos seguidos com volumes de vazões do rio extremamente baixos e agora estamos falando sobre quase esse dilúvio que chegou de repente. Devemos aprender que não dá para brigar com a chuva, um fenômeno natural, e também não dá para brigar com a cheia do rio, que é absolutamente natural, não tem como dimensionar o volume de água que vai cair. Mas o que podemos fazer?”, provocou.

Para ele, respeitar toda a natureza, inclusive do rio, é o primeiro passo. “Quando vemos inundações em cidades dentro da bacia do Velhas, diversas casas estavam praticamente às margens do rio. Margem do rio, é do rio, e não para nossa ocupação. Se ficarmos brigando por esse modelo de ocupação, vamos perder todas. A partir de agora é convocar as prefeituras para pensar em um plano de relocação das comunidades mais carentes, que todos os anos sofrem com as enchentes e são vítimas do mesmo processo. É preciso ter políticas públicas para dar segurança a essas pessoas, um Plano Diretor que seja respeitado”, completou Polignano.

O SETE DIAS fez um levantamento de cada uma das regiões mais atingidas pelas chuvas e a consequente cheia do Rio das Velhas. Em Jequitibá, o Rio das Velhas transbordou e as ruas próximas do curso d’água já estavam alagadas desde a última terça-feira (11). Famílias em situação de risco foram retiradas de suas residências, conforme orientação da Defesa Civil. As mesmas foram alojadas na Escola Estadual Professor Vitor Pinto, um dos pontos mais altos do município. 

Conforme monitoramento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil, atualizado a cada 15 minutos na plataforma Sace (Sistema de Alerta de Evento Críticos), Jequitibá, Rio Acima e Raposos já atingiram sua cota de inundação. A água, inclusive, já passou sobre ponte na MG-238, que liga Jequitibá a Santana de Pirapama. Nesse trecho, a pista foi totalmente interditada e liberada somente nesta quinta-feira (13).

Já em Sete Lagoas, em comunicado enviado na segunda-feira (10), o Serviço Autônomo (SAAE) de Sete Lagoas  informou que, “o Rio das Velhas encontra-se com grande volume de água, o que impossibilita a captação de seu leito, uma vez que os motores ficaram submersos. Dessa forma, está temporariamente suspensa a captação e o tratamento de água do rio, até que a vazão caia para limites que possibilitem o funcionamento dos motores”. 

Somente na quinta-feira (13), a operação foi retomada, na captação localizada em  Funilândia. Em função disso, pelo menos 19 bairros de Sete Lagoas tiveram o abastecimento de água prejudicado: São João, Braz Filizolla, Santa Marcelina, New York, Bom Jardim, Esperança, Aeroporto, Industrial, CDI II, Interlagos, Luxemburgo, JK, Planalto, São Vicente, Emília, Montreal, Alvorada, Canadá, Jardim Europa e adjacências. 

Também em Sete Lagoas, a queda de um muro de contenção e risco iminente de deslizamento de terra comprometeram residências no bairro Canadá. Segundo a 5ª. Cia. Independente do Corpo de Bombeiros, devido ao colapso do muro e ao encharcamento do solo pelo grande volume de chuvas, ficaram em situação de risco cinco casas na parte de cima da rua Maria Geraldina da Fonseca, além de outras seis residências próximo a Av. Raimundo Geraldino Fonseca.

Devido ao risco iminente constatado no local, 26 pessoas foram retiradas de suas casas, sendo que 25 delas ficaram desalojadas e uma desabrigada. A operação foi realizada em conjunto pelo CBMMG, Defesa Civil e Secretaria de Obras. A Defesa Civil prestou o apoio necessário para a realocação das famílias em casa de parentes e conhecidos, além de ter encaminhado o desabrigado para um abrigo.

FORTUNA DE MINAS 
Na terça-feira (11) foi feito o salvamento de duas pessoas que estavam ilhadas no lugarejo de Três Barras, em Fortuna de Minas. Acionados pela Coordenadora de Defesa Civil do município, uma equipe de bombeiros deslocou até o local com um barco para realizar o resgate de uma senhora de 82 anos e seu filho.

A residência das vítimas não foi atingida pela inundação, porém essas pessoas encontravam-se completamente cercadas pelas águas em decorrência da cheia do Rio Paraopeba.

Devido a inundação da ponte no principal de acesso a Três Barras, a guarnição do Corpo de Bombeiros teve que passar por uma estrada alternativa, também bastante destruída pelas chuvas. Após cinco horas de operação, a família foi resgatada e colocada em segurança. A Defesa Civil do município auxiliou na alocação desses moradores em outro imóvel.

Rede de ajuda
A sociedade organizada e iniciativa privada entraram em campanha para ajudar as vítimas das chuvas em SeteLagoas, Jequitibá e região. Doações de alimentos não perecíveis, roupas, produtos de higiene pessoal e de limpeza são bem vindos. Os postos de arrecadação: Sete Lagos Transportes (Av. Prefeito Alberto Moura, 2180 - Vale das Palmeiras II), Associação Comercial e Industrial (ACI), Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) - Av. Getúlio Vargas, 111, 3o andar, Centro) e Rosana Ribeiro Podologia e Estética (R. Senhor dos Passos, 278 - sala 411, Edifício Liberdade - Centro). Mais informações no (31) 3771-2345 (ACI).

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