Viúva abre o jogo após quase 10 anos de assassinato

A psicóloga Maria Rosário Costa Teixeira Maciel fala com exclusividade sobre morte de Tunico Donana: “Só teremos paz quando todos os envolvidos nessa trama diabólica estiverem acertado as contas com a justiça”, diz.

08/07/22 - 13:21

Marcinho (esquerda) é acusado de ter encomendado a morte de Tunico (dir.)
Marcinho (esquerda) é acusado de ter encomendado a morte de Tunico (dir.)

Por Roberta Lanza

No dia 8 de outubro de 2012 o empresário Antônio Claudio Maciel, mais conhecido como Tunico Donana, foi executado quando buscava o filho em uma obra no bairro São José, sem ter tido a mínima condição de defesa. O executor o seguiu e atirou à queima roupa contra a vítima, em plena luz do dia, tendo o empresário morrido no local. 
O caso repercutiu na mídia de todo o estado de Minas Gerais e, após quase 10 anos do crime, seria realizado na última semana de junho (22/06) o julgamento de Márcio João Ribeiro, o Marcinho, que é acusado de ser o mandante do assassinato de Tunico, mas que acabou não ocorrendo.
O réu não compareceu, o que não impediu que a sessão tivesse continuidade.  Marcinho alegou que estava doente, com o seu advogado de defesa, Fábio Gustavo dos Reis Monteiro, apresentando um atestado médico. O mesmo disse que representaria o acusado, o que foi aceito.
Porém, o advogado Fábio Gustavo alegou que o Júri estaria comprometido, visto que os mesmos tiveram acesso a matéria jornalística sobre o caso em site de notícias e redes sociais, o que poderia afetar o julgamento. Para o advogado, o teor do conteúdo prejudicaria o seu cliente e comprometeria o resultado final. 
Além disso, duas juradas desistiram de fazerem parte do júri ao alegarem falta de tempo até a conclusão do processo mesmo após a sessão ter sido iniciada. O julgamento foi adiado e a marcação de nova data é aguardada.
Em entrevista exclusiva ao SETE DIAS, a viúva de Tunico Donana, a psicóloga Maria Rosário Costa Teixeira Maciel, abre o jogo e fala sobre os desafios da família durante quase uma década do caso ainda em aberto e os supostos responsáveis sem qualquer punição judicial.  Tunico deixou esposa, três filhos (Ana Marina, Antônio e Pedro) e uma neta (Maria Antônia).  

Como está sendo lidar com a morte do seu marido, mesmo passados 10 anos?
Todas as famílias que perdem seus genitores de forma natural passam por um longo período de luto e luta, que com o passar do tempo se acomoda. No caso de uma morte encomendada, um crime bárbaro, é muito diferente. Não passa, não alivia. Os tiros que acertaram o Tunico deixaram estilhaços e marcas profundas em toda a família. Mesmo depois de 10 anos da morte do Tunico vivemos tratando das nossas feridas.

A família acredita que Tunico foi assassinado por qual motivo?
As investigações da Polícia Civil apontam para um crime "encomendado" onde o mandante precisava se ver “livre” do Tunico, devido à quebra de contrato num negócio de locação de um imóvel.

Por que o julgamento ainda não ocorreu? Quais são as dificuldades?
O julgamento não acorreu porque os advogados dos réus fazem inúmeras manobras para adiar o julgamento. São três acusados. Entre as manobras, há pedido de desmembramento do julgamento; ou seja, para que os acusados sejam julgados em separado. Há troca de advogados que pedem tempo para estudar o processo e a justiça tem que acatar os pedidos e esperar o tempo necessário para que tais pedidos sejam julgados pelos tribunais.

O que a família espera da justiça, mesmo após 10 anos?
Seja após 10, 20 ou 30 anos o que a nossa família espera da justiça é que ela realmente seja feita, ou seja, que os acusados sejam julgados e que cada um pague pelo crime que cometeu.

Tunico era um empresário atuante na vida da cidade, principalmente no setor de entretenimento e alimentação. Como ficaram os negócios após sua morte?
Todos os restaurantes, casa de show e outros negócios que o Tunico atuava tiveram fim um ano após sua morte. A insegurança, o medo e, principalmente o sofrimento, não permitiram que nenhum de nós déssemos continuidade aos projetos dele.

Qual é a rotina da família, a vida voltou ao normal, os herdeiros são empreendedores como o pai?
Tentamos levar uma vida normal, mas as sequelas são enormes e por causa delas mudamos várias vezes de endereço e fizemos inúmeras mudanças nas nossas vidas numa busca incessante de paz que só vai realmente acontecer quando todos os envolvidos nessa trama diabólica estiverem acertado as contas com a justiça.
Nestes quase 10 anos procuro incansavelmente fazer com que meus filhos sigam seus caminhos com muita fé e muita força, pois somos pessoas de bem, somos cercados de bons amigos e fazemos parte de uma família ilibada que nos inundou de valores essenciais para não abaixarmos a cabeça para ninguém.
Por fim, é muito triste viver essa expectativa de um julgamento que sempre sofre um impedimento para não acontecer. A sensação é a pior possível. Nossos mortos nunca são enterrados porque as feridas, as lembranças ruins, as dores vêm à tona como se estivéssemos vivendo tudo outra vez!

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Família aguarda justiça os filhos Pedro, Ana Marina, a viúva Maria Rosário e Antônio.
Assentados, Ronaldo França Teixeira e Marlene Costa Teixeira, sogros
 

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