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Com toda a razão, é grande a preocupação do técnico Cuca e da diretoria do Atlético em evitar a todo custo, euforia exacerbada antes da hora

26/10/21 - 16:26

Foto: twitter.com/Atletico
Foto: twitter.com/Atletico

Por Chico Maia Blog

Chico Maia

Euforia da torcida e principalmente dos jogadores. Qualquer título só é conquistado depois do apito final do jogo decisivo. Com a chegada do discutível VAR, agora, só depois da última conferida. Percebo que a torcida, em sua maioria, está engajada neste espírito do Cuca, já que todo atleticano com quem converso, rechaça a ideia do “já ganhou”.

O Galo tem histórico extenso de frustrações por conquistas perdidas na última hora, por erros próprios ou por armações fora das quatro linhas.

Cada atleticano tem um trauma especial na memória. Depende da geração e do tamanho da dor sentida. O meu, é dos tempos de criança, que valeu uma lição que coloquei em prática na vida, até hoje: você não perde nada por ser respeitador, por meio de gestos e palavras. Foi o Campeonato Mineiro de 1977. O Galo com uma máquina de jogar bola, com jovens prata da casa que já se destacavam entre os melhores jogadores do país. Aquele título seria “barbada”. Tanto que ninguém se espantou com a entrevista do líder do time, Toninho Cerezo, que depois do primeiro jogo da final, em que o Atlético venceu por 1 a 0, soltou essa: “. . .enquanto eu, Reinaldo, Paulo Isidoro e Marcelo (Oliveira, atual treinador) jogarmos juntos no Galo, o Cruzeiro jamais será campeão. . .”.

E ele ainda teve a audácia maior de pegar a Taça no hall do Mineirão e levá-la para o vestiário do Atlético.

No segundo jogo, o Galo fez 1 a 0, logo aos cinco minutos. Festa total nas arquibancadas, a sacramentação do título! Ledo e trágico engano. O uruguaio Revétria fez três gols, Reinaldo fez mais um para o Galo e uma terceira partida foi marcada. Aí, com 122.534 pagantes no Mineirão, o Cruzeiro ganhou de 3 a 1, com mais um gol de Revétria, e foi campeão. Na época, o goleiro argentino Ortiz, até então ídolo da torcida atleticana, foi escolhido como o vilão, acusado de tudo. Teve que ir embora de Belo Horizonte.

Por isso, dou razão a todo atleticano que morre de medo do clima de “já ganhou”. Mas, recomendo esta crônica do paulista Júlio Gomes Filho, do Uol, um dos melhores jornalistas do país, insuspeito, que fez uma avaliação fria dessa corrida pelo título.

* “Atlético ‘cancela’ final com o Flamengo e vira virtual campeão”

No Brasileiro dos pontos corridos, nunca um time havia tido sete pontos ou mais para o segundo colocado e perdido o campeonato. Só aconteceu uma vez. E foi neste ano. Era o Brasileirão de 2020, que a pandemia empurrou para frente. O raio, que nunca havia caído, cairá duas vezes no mesmo lugar? Ou no mesmo ano? Duvido muito. A poucos dias do esperado confronto direto entre Flamengo e Atlético Mineiro, separados agora por sete pontos (perdidos), nada faz parecer que o título nacional não irá parar, afinal, na Cidade do Galo. O São Paulo, de Leco, Raí, Pássaro e Diniz, passou o Reveillón pandêmico cumprindo distanciamento social e com distanciamento na tabela, eram sete pontos de vantagem para quem vinha logo atrás. Mas acordou da ressaca da virada sem dois destes elementos. Começou a derreter e jogou fora um campeonato “ganho” – é a estatística histórica que confere o termo. Se o Atlético não repetir o São Paulo, será campeão brasileiro pela primeira vez em 50 anos. Basta não derreter. E não há razões para achar que isso irá ocorrer. O Galo não vai trocar de diretoria nesta semana, não tem um técnico em constante corda bamba e muito menos um elenco cheio de buracos e limitações, como era o do São Paulo-2020/2021. Para melhorar o cenário todo, o Atlético conseguiu recuperar o bom jogo e aumentar a gordura justo antes do tal confronto direto.

Um duelo que muitos adorariam chamar de “final antecipada”, mas que não será final nenhuma. Mesmo que perca, a vantagem do Galo ainda será estratosférica. Já faz tempo que o Atlético tem mais de sete pontos de frente para o segundo colocado, mas era (e é) sempre necessário olhar para os jogos a menos do Flamengo na tabela. E só agora, depois desta rodada do fim de semana, que o time de Cuca chegou a sete pontos de vantagem nos pontos perdidos. Se o Flamengo vencesse seus dois jogos a menos, que disputará sabe-se lá quando, a diferença ficaria nos tais sete pontos. A vantagem que o São Paulo – e ninguém mais – desperdiçou.

Houve viradas maiores nos pontos corridos, mas olhando da perspectiva de quem produziu a virada (exemplo, Flamengo de 2009) e não olhando para a diferença entre o primeiro colocado e seu perseguidor mais próximo. Quando um campeonato fica entre dois times e entramos no terço final, é natural olhar para cada rodada desta disputa particular.

Nas rodadas da Data Fifa de outubro, o Flamengo, com desfalques mais sensíveis que os do Galo e jogos mais difíceis, se deu bem por manter a desvantagem que tinha – ou seja, sobreviver na disputa. Mas um período de uma semana, simplesmente sete dias, foi suficiente para deixar o Atlético como virtual campeão brasileiro.

A série de eventos começou no domingo passado, quando o Galo, finalmente, perdeu – para o Atlético-GO. Naquele momento, às 20h de domingo, o Flamengo estava em campo e dependia somente de suas próprias forças para ser campeão brasileiro novamente. Mas aí o time de Renato empacou no Cuiabá, 0 a 0. No meio de semana, o Atlético, que vinha derrapando em termos de desempenho, fez brilhantes 4 a 0 sobre o Fortaleza pela Copa do Brasil – enquanto o Flamengo empatou com o Athletico-PR. Ou seja, na quarta-feira à noite, o Galo recuperava a confiança de forma dupla, pois voltava a jogar bem e tinha a garantia de estar na final da Copa do Brasil, podendo olhar para o Brasileiro com 100% das atenções.

O terceiro ato veio com a rodada deste fim de semana. O Fla teve mais uma atuação pífia no Fla-Flu, sábado à noite, e perdeu o jogo. O Atlético tinha a chance de aproveitar contra o mesmo Cuiabá que empatou com o Flamengo sete dias antes. E aproveitou, fez 2 a 1 e abriu vantagem na tabela.

No próximo sábado, haverá o esperado confronto direto entre eles, no Maracanã. Antes, no meio de semana, ambos voltam a campo pela Copa do Brasil, e Cuca, se for esperto, pode gerenciar o elenco e nem mandar alguns jogadores mais desgastados para a partida de volta contra o Fortaleza. Já Renato, que já convive com desfalques, não tem como gerenciar nada. Precisa dar uma resposta para a torcida e classificar o time para a decisão. No Brasileiro, restará ao Flamengo vencer o Galo para voltar a diferença a dez pontos – que seriam quatro nos pontos perdidos. Vejam o tamanho do buraco. Se o time mineiro sair do Maracanã com uma vitória ou mesmo com um empate, já pode dar a faixa. Já estamos em contagem regressiva, o Atlético é o virtual campeão brasileiro.

https://www.uol.com.br/esporte/colunas/julio-gomes/2021/10/25/gomes-atletico-cancela-final-com-o-flamengo-e-vira-virtual-campeao.htm?cmpid=copiaecola

Revétria comemora um dos gols da final contra o Atlético em 1977, com Vantuir, Márcio Gugu, Ortiz e Alves sem entender o que estava acontecendo.

Chico Maia Blog

Jornalista formado pelo Uni-BH

(antiga Fafi-BH) e advogado pelo Unifemm-SL.

Trabalhou nas rádios Capital, Alvorada FM, América e Inconfidência.

Na televisão, teve marcante passagem pela Band Minas e também RedeTV!.

contato@chicomaia.com.br 

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