Crônicas

Regininha

12/03/22 - 22:27

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Sou apaixonada com plantas, flores e animais, em especial os cães.  Mas ainda não descobri o motivo de não gostar de coruja. Coitadinha, pobre ave, nunca tive nenhum problema com  sua espécie, mas não simpatizo.

Esta semana apareceu uma aqui no Colégio Franciscano Regina Pacis, escola que leciono, resolvi que chamaria Regininha , combinando com a instituição, para mim tudo deve ter nome , sou fã dos substantivos.

Regininha pousou em um cano, no corredor das salas do segundo andar, foi motivo de festa , os alunos naquela agitação querendo tirar fotos juntamente com alguns professores e funcionários. Ela lá quietinha, só observando tudo, acho que estava bem orgulhosa do seu sucesso, pois parecia fazer pose para a coleção de celulares. Eu de longe observava toda cena, não tive vontade de aproximar. Acho sua fisionomia muito séria, será pelo fato de não ter paciência com ninguém mal humorado? Bicho logicamente tem humor, será? Vou procurar saber com um especialista em aves e retorno pra vocês.

Regininha só me observando com seus olhos bem escuros, escuto bem baixinho ela falar :

Oh professora , chega mais perto para conversarmos um pouquinho.

Pensei que estava ficando louca, escutar coruja conversar não é comum, mas ela queria saber o motivo da minha aversão com sua espécie. Retratei  que tem coisas que a gente sente, mas não sabe explicar, mas não a convenci. Como falar que não gosto de seu olhar inquisidor sempre focado em um ponto?  De repente ela me deu grandes lições, falou que me conhecia através dos meus textos, perguntou se não conheço a fábula da coruja e do gavião, em que o mesmo comeu seus filhotes por acha-los feios. Fui ficando bem sem jeito, um bichinho tão pequeno me deixar numa saia justa, difícil.

O pior foi quando me perguntou se sabia o tema da campanha da fraternidade deste ano: Fala com sabedoria, ensina com amor. Aí sim um buraco abriu debaixo dos meus pés, eu uma professora, ajudando na Pastoral da Educação ganhar um puxão de orelhas, ela indiretamente me chamou de preconceituosa. Fiquei pensando e se essa danadinha chama minha diretora  e relata meu comportamento , vou pra rua , peguei firme com São Francisco de Assis ,  protetor dos animais e da instituição para me perdoar e ajudar a sair dessa .

Quando estou matutando, rezando alguém me cutucou e disse:
    _ Professora, você não vai pra sala, dar aula?  Tem um tempo que está aqui parada, olhando a coruja. 
    Respondi que estava indo, tenho que parar com essas viagens poéticas, cabeça de escritora é cheia de imaginação.

Março 2022.
 

Élida Gontijo

Élida Gontijo