Apócrifo, documento de “empresários” faz terrorismo no país

18/03/21 - 07:30

Artigo foi enviado pela jornalista Márcia Brandão à redação
Artigo foi enviado pela jornalista Márcia Brandão à redação

Márcia Brandão Raposo, jornalista

Um documento ameaçador, atribuído a “empresários”, está circulando em vários estados nesta quarta-feira, dia 17 de março. Nele, os tais “empresários” fazem ameaças a governadores e prefeitos de que não cumprirão mais qualquer decreto que restrinja atividades por causa da pandemia do coronavírus, que faz hoje um ano. 

O primeiro estranhamento ao texto é que ele não é assinado. É apócrifo. O segundo é que o texto é o mesmo em todo o país, só muda o nome do prefeito ou do governador. Hoje ele chegou em Sete Lagoas, cidade em que vivo, onde deveria estar sendo iniciado o cumprimento do decreto da “onda roxa” assinado pelo governo de Minas Gerais.

A primeira vez que vi o documento faz dois dias. Ele era atribuído a “empresários de Belo Horizonte” e as ameaças eram dirigidas ao governador Zema. Sim, o governador que fez corpo mole diante da pandemia, que não se sentou com outros governadores nem assinou textos coletivos com eles. E o único governador do país que é do Novo, o partido abertamente empresarial e liberal capitalista. Ao que parece, os tais “empresários” não se sentem representados pelo partido que os representa.

Zema, o que fazia pouco da pandemia, rendeu-se ao colapso do sistema de saúde no estado. Foi à imprensa e nas suas redes sociais dizer que adotaria a Onda Roxa, a mais enérgica de todas as medidas restritivas. Disse mais. Disse que ele via, em quem descumprisse as regras do decreto, um “criminoso”. Minas Gerais caminha para um milhão de casos confirmados da covid desde o início da pandemia. Já são mais de 21 mil mortes, segundo o governo porque há especialistas contradizendo esta informação que estaria subestimando o real número de mortos.

Sete Lagoas teve, desde março de 2020, a morte de 216 pessoas. Gente que teve cassado o seu direito à vida. Pessoas que deixaram dores, desespero, solidão, abandono. Este número vem dobrando a cada semana. Os contaminados já chegam a quase 13 mil. A cidade também colapsou. Os leitos de UTI, privados e públicos, destinados a doentes da covid, estão ocupados. A taxa de ocupação hoje é de pouco mais de 98%. Já chegou a 100%. Este número é variável ao longo do dia.

Ainda assim, o total desprezo por vidas fez surgir o documento apócrifo dos “empresários” que defendem todas as posições do presidente Bolsonaro a respeito da covid. Presidente hoje qualificado como genocida pelas redes sociais. O país chega a quase duas mil mortes por dia. São 282,4 mil no total. Presidente que descumpriu, descumpre e estimula a descumprir todas as regras que, além da vacina – que chega lentamente na população -, isolariam ou reduziriam a transmissão do vírus e, portanto, as mortes.

O prefeito de Sete Lagoas gravou um vídeo apressado, dizendo que o decreto está valendo e que a Polícia Militar é que cuidará do seu cumprimento. Hoje, o comércio estava todo aberto. As pessoas circulavam nas ruas normalmente. Gente ainda sem máscara, como se nada estivesse acontecendo. A PM vai mesmo impedir o funcionamento do que está proibido de funcionar? Faz uma semana que a cidade está em lockdown noturno. Nos bairros mais distantes do centro a vida segue normal.

Ao final deste dia tenso, preocupante e revoltante, a pergunta que faço é: nós, cidadãs e cidadãos que se preocupam com vidas e não com dinheiro, que acreditam em especialistas e não em negacionistas, que cumprem as regras, que obedecem ao isolamento, o que podemos fazer? Diante desses “criminosos”, copiando a afirmação do próprio governador Romeu Zema, o  que se pode fazer? Com a palavra, o Ministério Público e o Judiciário.

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