COLUNA CATÓLICA

DOU-TE A MELHOR PARTE

Dou-te a melhor parte, meu tempo, meus ouvidos, a minha ternura e cuidado. Dou-te água, alimento e descanso. Dou-te da minha casa.
O encontro de Jesus na casa de Marta e Maria (Lc 10, 38-42) é provocativo nos toques da hospitalidade, acolhida, dedicação e inclusão. Hoje, Marta e Maria são dois modos integrativos de nossas escolhas, na realidade humana/religiosa, no protagonismo de duas mulheres.

Três desafios: abrir a casa, acolher e escutar, servir e incluir.
A casa é sinônimo de sossego e hospitalidade. Hoje, da propriedade, individualidade e segurança. Pressupõe muros, portas e chaves. Nos complementos dos interfones, câmeras e cercas elétricas. Evita-se o contato com o outro: seu rosto, seu cheiro e a sua dor. Implica em fechamento e distanciamento na urbanidade. Por isso, os alphavilles para se livrar das importunações.
Tudo é rápido e líquido. Perdemos o rosto e brilho dos nossos parentes, vizinhos só em flashes, de estranhos distância. Visita é aborrecimento, chega e interiormente nos desorganizamos. Será que vai demorar? Na pressa que a visita vá, não convidamos para entrar, nem oferecemos água, tampouco café ou refeição. A visita nos desinstala física e emocionalmente.
Rubem Alves dizia: “quando se quer que a visita vá embora, leve-a para a sala, lugar etiquetado. Quando se quer que fique leve-a para a cozinha”. Guimarães Rosa, afirmava: “visita boa é aquela que dura de três dias ou mais.”

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas (Lc 10,41).”
São por demais as preocupações do tempo presente: consumir, ganhar dinheiro e contas a pagar; mais a casa, trabalho, crianças, escola, saúde além da academia, estética e o peso. Acabamos pesados, tristes e ofegantes. 24 horas é pouco para o dia. A vida é agendada, normatizada e burocratizada detrás da mesa e no computador. Tudo fica frio e sem graça. Dá-me a melhor parte.

A melhor parte é o seu tempo diante da pessoa, na acolhida, escuta e contemplação das suas alegrias e angústias, sonhos e esperanças. Isso. Ninguém tira, eterniza!
Devia ter amado mais, (...) trabalhado menos.
Na vida da Igreja precisamos nos des-programar no des-agendar. Muitas reuniões sem a melhor parte: acolhida e riso. Muitas portas fechadas.
O pecado de Sodoma e Gomorra foi a falta de hospitalidade e não sexual!
Dá-me do teu sorriso, no abraço e brilho na liberdade do beijo da hospitalidade.

Padre Warlem Dias

Teste