Crônicas

Os ipês

17/07/21 - 18:28

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Minhas férias tão sonhadas chegaram. Depois de um semestre de tantos desafios, muito trabalho, insegurança etc. Foi um tempo de muito aprendizado e ao mesmo tempo muitas dúvidas, iria ser vacinada? Voltaria para sala de aula? Como perdi noites e noites de sono embaladas pelo medo, rezava, rezava e seguia em frente. 

imagem

Comecei a trabalhar em mais uma escola e por aí vão muitos desafios. Como num clique aparece a mensagem: férias. Momento de repor energias, respirar com calma, acreditar que tudo dará certo, quando voltar a trabalhar terei diversos desafios para adentrar a sala de aula, uma forma bem diferente, alunos divididos em bolhas, distanciamento, sem abraços e beijos na chegada, sala dos professores lugar só de passagem rápida. A frase do momento será: seguir protocolos. Vencemos uma grande batalha durante um ano e meio, fomos heróis e heroínas que um dia espero que sejam reconhecidos. Tenho certeza através da fé que carrego em meu coração que venceremos novamente. 

Agora tento relaxar, mudar o foco, foi tanta correria que não percebi os ipês já começaram a florir, na minha rua sou agraciada com a beleza de um. Vieram enfeitar minhas férias, sou apaixonada, a variação de cores me deixa boquiaberta. Como disse meu grande escritor Rubem Alves: “ O ipê faz amor quando o inverno chega e a sua capa florida é uma despudorada e triunfante exaltação ao cio.” 

Não gosto do inverno, acho triste, gosto de ficar bem quieta, debaixo das cobertas, tomar um leite quente, cuidar da minha rinite que sempre ataca , ler um bom livro e deixar o pensamento vagar. E já entrando no clima, comecei a analisar que os ipês têm a função de alegrar o inverno, normalmente as plantas se enfeitam na primavera, eles não, buscam toda energia florindo pouco a pouco, enchem de cores os dias frios. Primeiro o roxo, depois rosa, amarelo e por último o branco, normalmente esse último entre setembro e outubro , penso que deixa as cores para as outras flores primaveris, a magia da criação divina.

Devem estar achando que estou viajando demais nesse texto, mas já avisei que estou de férias, kkkk. Não viajarei literalmente, quero esperar mais um tempo, vacinar a segunda dose, me poupar e poupar os outros. Viajarei na leitura, na escrita, na fantasia , no deslumbramento das flores, inclusive daquelas do meu Jardim Poético. Vou curtir minhas férias, tão pequenas, mas extremamente necessárias, buscarei os ipês por toda parte, aprenderei com eles a magia do florir em tempo de seca, de inverno. Preciso florir, quando voltar ao trabalho estarei em paz, tirando o medo do desconhecido, sei que o processo será como a florada dos ipês, a cada tempo um de nós estará mais confiante e florescendo, acredito em dias melhores.

Espero que cada um dos meus colegas de trabalho floresçam, sei que são fortes e venceremos juntos a próxima batalha.  Quem sabe no final do ano, poderemos dizer que tudo passou e que deu certo, valeu o plantio, o florescer e aí estaremos de férias novamente e com o coração em paz, por mais uma batalha vencida. Que assim seja! Élida Gontijo- julho de 2021.

Élida Gontijo

Élida Gontijo