A NOSSA HISTÓRIA: O Sesquicentenário da Fábrica do Cedro (II)

06/08/22 - 08:00

“Na manhã seguinte, levantamo-nos cedo para inspecionar a fábrica. O algodão é cultivado em pequenas áreas, pelo povo, no vale do Rio das Velhas e entregue cru e sem limpar, na porta da Fábrica, pelos próprios camponeses. O algodão é descaroçado, transformado em fios e, depois, tecido em pano macio e pesado, de dois tipos. O de qualidade superior é usado para fazer camisas toscas, casacos e calças, e o de qualidade inferior é usado para fazer sacos. Havia 18 teares que com o resto das máquinas eram movidos por bem feita e forte roda d’água com um diâmetro de cinquenta pés. Tudo era metódico e estava em perfeita ordem. O som das máquinas e a ótima disciplina mantida nas salas de trabalho constituíam um espetáculo novo para nós no interior de Minas. A fábrica tinha sido construída há cerca de três anos e os lucros eram tão grandes que as despesas já tinham sido quase totalmente pagas. O sucesso era tamanho que os donos estavam acabando de montar outra em Curvelo, a poucas milhas de distância” (CENTENÁRIO DA FÁBRICA DO CEDRO, Histórico, pág. 84. Belo Horizonte, Edição Particular. 255 páginas). O relato acima é de JAMES W. WELLS, que visitou a Fábrica do Cedro em 1875 e continua a contar a sua passagem pela nossa região. 

GERALDO MAGALHÃES MASCARENHAS – autor da obra que ora comentamos – avalia que esse depoimento “comprova o êxito da administração no seu esforço para a adaptação do homem ao trabalho industrial. A obra civilizadora empreendida pelos fundadores da Cedro frutificava amplamente, segundo o testemunho do engenheiro inglês”. Mas ressalva que houve um “evidente exagero nas apreciações por ele expendidas quanto à probabilidade de lucro, estimando-o entre 40 e 50% ao ano. Não era tão fácil operar a fábrica e comercializar os seus produtos. Pelo contrário, problemas havia de toda a ordem a vencer, mas, enquanto a concorrência inglesa esteve em recesso, tolhida pela falta de matéria-prima, houve tempo bastante para a consolidação financeira do empreendimento e a expansão da fábrica” (Obra citada, pág. 86). Lembre-se, ainda, que os custos de importação dos produtos para tingir os tecidos e as correias das máquinas, dentre outros, não eram baixos, assim como o frete para trazê-los do Rio de Janeiro.  

Segundo o Regulamento da fábrica, as funções dos mestres, em cada uma das repartições da empresa, eram bem definidas: o mestre de fiação respondia pelo descaroçamento do algodão até a entrega do fio; o de urdume se encarregava de receber o fio e preparar os seus rolos; dois são os tipos do fio de algodão: o urdume, que forma o comprimento do tecido, e a trama, que se entrelaça ao mesmo, no sentido transversal, da largura do pano; o mestre de teares recebia os rolos urdidos e entregava os panos à preparação; o de preparação pegava os panos e os aperfeiçoava, deixando-os limpos e em peças nitidamente marcadas, prontas para seguir ao depósito; o mestre tintureiro tingia a quantidade de fios na cor e qualidade solicitadas, tendo todo o cuidado de produzir cores firmes e iguais. Em 1882 – dez anos após a sua fundação –, a Fábrica do Cedro empregava 130 pessoas, dentre homens e mulheres, dos quais 60 eram menores. Consumia 250.000 kg de algodão em caroço, plantado na região, comprado a $140 o quilograma. Produzia, anualmente, 300.000 metros de “riscados mineiros finos e algodões brancos para a lavoura, regulando de 300 a 700 Rs o metro grosso”. Cascas de árvores, colhidas ao redor da fábrica, além das tinturas importadas da Inglaterra, eram usadas como corantes. A produção era consumida no Estado e uma pequena quantidade nas Províncias do Rio, São Paulo e Goiás. A empresa mantinha 2 escolas noturnas de primeiras letras para os dois sexos, frequentadas por 70 alunos. Dos 130 empregados, 63 sabiam ler e escrever. Como dito pelo engenheiro inglês, tudo funcionava na mais “perfeita ordem”. Se hoje a instalação de uma empresa, em qualquer cidade, causa impactos relevantes no seu desenvolvimento, dá pra imaginar o que significou, naquela época (1872), a criação da Fábrica do Cedro na região. Mas a história não para por aí. Em Curvelo, às margens do Córrego Cachoeira, surgiria uma nova indústria têxtil, que formaria, com a primeira, a atual Companhia de Tecidos Cedro e Cachoeira. Bela história! 

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