A NOSSA HISTÓRIA: O Sesquicentenário da Fábrica do Cedro (I)

30/07/22 - 08:00

“No dia 12 de agosto de 1872, tudo pronto - açude, rego, bicame, roda d’água assentada, transmissão instalada, máquinas montadas - foram abertas as comportas e a água jorrou sobre a roda, que, gerando os 40 cavalos, pôs em movimento a eixaria, e a Fábrica do Cedro entrou em funcionamento. Narra Paulo Tamm que a primeira peça do tecido produzidos os filhos remeteram ao pai, em São Sebastião, em uma carta que diz: - “Aquilo que ali lhe mandavam era o primeiro pedaço de pano tecido na Fábrica do Cedro. Que ele o aceitasse, pois, com o mesmo entusiasmo com que o tinham fabricado” (CENTENÁRIO DA FÁBRICA DO CEDRO, Histórico, Geraldo Magalhães Mascarenhas, pág. 64. Belo Horizonte, Edição Particular. 255 páginas). 

O texto acima mostra o início das atividades da Fábrica do Cedro. O seu nome tem como referência o Córrego do Cedro, às margens do qual foi construída, em Tabuleiro Grande, na época Distrito de Sete Lagoas (1840-1911). Posteriormente, o distrito ganhou autonomia, dando origem ao município de Paraopeba (1911). Na sequência, essa porção do território – a fazenda onde foi edificada a companhia têxtil – também se emancipou, surgindo o atual município de Caetanópolis (1954). No dia 12 de agosto, ela completará 150 anos. A empresa quase foi construída em Juiz de Fora. Por sorte, o irmão mais velho, Antônio Cândido, proprietário da Fazenda Rasgão, ao ser convidado por Bernardo e Caetano para compor a sociedade que viria a constituí-la, disse que só participaria se a fábrica fosse construída no Distrito de Tabuleiro Grande, o que acabou ocorrendo, para o bem da população. A crise que imperava na indústria têxtil da Inglaterra e de outros países, por falta de algodão, foi o incentivo para a fundação da indústria. Numa época em que havia a escravidão, os irmãos Mascarenhas, conhecidos como o “famoso ABC da indústria têxtil em Minas Gerais”, acreditavam no trabalho livre como fator de desenvolvimento pessoal e social. E na livre iniciativa. Fruto do empreendedorismo de Bernardo Mascarenhas – considerado “o Mauá” da tecelagem – e de seus irmãos Antônio Cândido e Caetano Mascarenhas, a fábrica de tecidos trouxe o progresso para a região. O regulamento da empresa, além de disciplinar o funcionamento interno, trazia um verdadeiro código de condutas para os seus operários, a ser observado na comunidade em que viviam, necessário para a manutenção da ordem e dos bons costumes. Proibia as ações que colocassem em risco a higiene (arts. 3º, 9º, 10º e 11º), o meio ambiente (arts. 4º, 5º e 7º), a propriedade (arts. 2º, 6º e 12) e o sossego dos moradores (arts. 1º e 8º), além de punir quem violasse as suas normas, por meio de advertência, multa e até demissão, dependendo da gravidade da falta. 

O engenheiro inglês JAMES W. WELLS, que visitou a Fábrica do Cedro em 1875 – lembra Geraldo Magalhães Mascarenhas – assim se referiu à comunidade onde os operários viviam: “Ao fundo dos edifícios da fábrica e armazém, havia uma longa fila de casinhas para os operários, homens, mulheres e crianças. Suas refeições eram servidas em um grande galpão próximo. Todos pareciam contentes e felizes, estavam decentemente vestidos, mantinham a higiene de suas casas e de suas próprias pessoas; eram econômicos, trabalhadores, sóbrios e bem comportados. Que modificação uma indústria, a disciplina e bons exemplos tinham produzido naquela gente! Que diferença de seu estado natural de indiferença, fome e inutilidade. Uma boa e rigorosa disciplina era mantida na fábrica, e era proibido conversar, exceto sobre aquilo que era absolutamente necessário ao serviço. Esse exemplo de administração brasileira só pode ser altamente elogiado e mostra o que pode ser conseguido do povo do campo, quando ele é dirigido por pessoas retas e competentes” (Obra citada, pág. 86). Tão importante foi a Fábrica do Cedro para a nossa história, e continua sendo para o município de Caetanópolis, que seu nome homenageia Caetano Mascarenhas, um dos irmãos fundadores da empresa. Importante notar, ainda, que o seu primeiro Prefeito foi Antônio Joaquim, pertencente à família Mascarenhas. E nessa aprazível cidade existe, ainda, o Museu Têxtil Décio Mascarenhas, mantido pela Cedro, desde 1983, com um acervo de 1.000 peças, para preservar e perpetuar a história da indústria têxtil nacional.

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