Há 32 anos, a fisioterapeuta Francisca Araujo Martins Resende fundou a Academia Fisioforma, que também abrigava uma clínica de fisioterapia. Trabalhou na academia por 20 anos até vendê-la em 2012 para se dedicar exclusivamente à fisioterapia, oferecendo atendimentos individuais e especializados.
Ela descreve esse período como “muito rico em experiência profissional e relacionamento humano”. Atualmente, Francisca continua a trabalhar em sua clínica, localizada no mesmo prédio da antiga academia, na Rua Dr. Chassim, 117, segundo andar. Ela divide o espaço com seu marido, o médico Jader Resende, e sua filha, Bruna, ambos renomados endocrinologistas da cidade.
Formada em fisioterapia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, Francisca se especializou no método McKenzie, reconhecido por muitos como revolucionário. Em uma conversa exclusiva com o SETE DIAS, ela compartilhou insights sobre sua prática profissional e os avanços da fisioterapia na promoção de uma vida mais saudável para todas as idades.
SETE DIAS: O que é e qual o diferencial do método McKenzie?
FRANCISCA RESENDE: Depois de conhecer a fisioterapia profundamente através de muito estudo de várias técnicas e métodos, fiquei muito encantada com os resultados rápidos e eficazes do método McKenzie (MDT). É reconhecido internacionalmente por sua avaliação precisa, o que direciona para a escolha assertiva do tratamento e também para a prevenção de dores na coluna, pescoço e extremidades. O método envolve o paciente ativamente no processo de cura, proporcionando soluções surpreendentemente rápidas, mesmo em casos crônicos, e resultados duradouros.
É possível avaliar e tratar todas as articulações e a coluna, evitando cirurgias desnecessárias e o excesso de medicação, criando condições para o retorno rápido às atividades de trabalho, esportivas e de lazer.
Fiz meu credenciamento pelo McKenzie Institute International em 2010 e, desde então, tenho utilizado essa abordagem com meus clientes. Foco muito na questão da ergonomia e postura, tendo também formação em Podoposturologia, Pilates, RPG, Terapias Manuais diversas em Fisioterapia e Confecção de Palmilhas Posturais/Ortopédicas.
SD: A postura corporal errada no dia a dia é a maior causa de dores nas costas, quadris e pernas?
FRANCISCA: Com certeza, a postura errada é uma das principais causas de dor, mesmo quando há outras causas associadas, seja nas costas ou em outras articulações. Ela pode promover doenças e deformidades definitivas, como cifose, escoliose, hérnia de disco e desgaste articular.
SD: Há distinção de faixa etária para dores na coluna?
FRANCISCA: Lesões na coluna, em sua maioria, são causadas quando forças normais são aplicadas em tecidos que estão fracos, ou quando forças muito intensas são aplicadas em tecido normal. Tanto o sedentarismo quanto o excesso de carga podem lesar a coluna e outras articulações. A dor lombar é mais comum em adultos e idosos, mas pode aparecer em jovens. Já a dor cervical, ombros e escápula tem acometido precocemente, especialmente devido ao uso inadequado de telas móveis.
SD: Até que ponto os novos hábitos das pessoas são responsáveis por dores no corpo? O uso do telefone celular, por exemplo, ou a inclinação do banco do carro?
FRANCISCA: O posicionamento do corpo influencia a distribuição do estresse físico sobre as vértebras, discos intervertebrais e articulações. Sentar de forma inadequada deforma as curvas normais da coluna e aumenta a pressão em determinadas áreas, causando desgaste e deformidades. O banco do carro não deve estar muito afastado do volante nem muito inclinado para evitar postura de flexão. O “tech neck”, ou pescoço tecnológico, é uma deformidade causada pela flexão mantida ao usar o celular. Para evitar isso, deve-se manter o pescoço em posição neutra e limitar o uso prolongado de dispositivos móveis.
SD: De tempos em tempos, um tipo de problema ortopédico aparece mais ou menos nos noticiários da imprensa. A Lesão por Esforço Repetitivo (LER), por exemplo. Continua havendo muitos casos ou se tornou um problema menor?
FRANCISCA: LER é uma síndrome que inclui um grupo de doenças com sintomas como dor nos membros superiores, fadiga e redução da amplitude de movimentos. Esses sintomas geralmente se relacionam com atividades inadequadas, não só dos membros superiores, mas de todo o corpo. Ainda há muitos diagnósticos, mas com atendimento fisioterápico e intervenção ergonômica precoce, há perspectivas de melhora mais rápida, especialmente com o Método McKenzie, associado a outras técnicas.
SD: De modo geral, qual o maior erro que as pessoas cometem e que comprometem o futuro do corpo, especialmente a coluna?
FRANCISCA: Para ter saúde, o mais importante é o equilíbrio em todos os aspectos: mente, alimentação, uso da tecnologia, exercício físico e sedentarismo. Os extremos não são saudáveis. É fundamental a prática regular e moderada de atividades físicas, alimentação saudável, sono adequado, uso consciente da tecnologia e buscar atividades que relaxem e proporcionem prazer. É importante não ignorar sintomas como dores e rigidez e buscar ajuda profissional adequada.
SD: Quem se preocupa mais com o corpo no que se refere à fisioterapia/ortopedia, os homens ou as mulheres?
FRANCISCA: Em minha prática clínica, não percebo diferença entre os sexos. O que observo é a demora em buscar o tratamento adequado, seja por falta de conhecimento ou pelo excesso de uso de medicamentos, retardando o processo de cura e prolongando o sofrimento, já que a medicação sozinha não é eficiente nesses casos.
SD: Com a chegada da idade, quais os cuidados especiais as pessoas devem ter para evitar maiores problemas de coluna?
FRANCISCA: É preciso se movimentar e não aceitar que a velhice deve ser acompanhada por dor. Buscar ajuda profissional, se necessário, e manter-se ativo fisicamente e socialmente. Alegria e relações interpessoais saudáveis também são fundamentais para evitar dores associadas à depressão e angústia.
SD: Como é trabalhar no mesmo edifício com o marido e a filha, médicos endocrinologistas? Há alguma interação profissional entre vocês, apesar de áreas tão distintas da saúde?
FRANCISCA: É gratificante estar em uma família da área de saúde, pois todos buscamos aliviar o sofrimento e a dor dos outros. Tenho total confiança e respeito pelo trabalho do Jader e da Bruna e trocamos conhecimento frequentemente. É muito bom saber que estão pertinho, na sala ao lado. Fica mais fácil discutir casos quando necessário e também dar um alô de vez em quando.