Bispo Dom Francisco e a nova realidade nos 145 anos do HNSG

Por Renato Alexandre

Dom Francisco Cota de Oliveira assumiu a Diocese de Sete Lagoas em 2020 e, em pouco menos de 5 anos, conseguiu transformar não só a atuação da Igreja Católica em 22 municípios da região, mas também mudar a realidade do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), unidade de saúde mantida pela Irmandade Nossa Senhora das Graças que é presidida por ele. O bispo diocesano não esconde que não esperava por tanta responsabilidade. Porém, comemora as conquistas da igreja e, principalmente, do HNSG que estancou seu histórico contínuo de endividamento, equilibrou as contas e melhorou sua estrutura administrativa e operacional.

No dia 7 de junho de 2017 Dom Francisco foi nomeado bispo titular de Fiorentino e auxiliar de Curitiba. Tomou posse como bispo da Diocese de Sete Lagoas no dia 1º de agosto de 2020.

 SETE DIAS – O senhor chegou a esta Diocese em 2020, quais foram os principais desafios, conquistas e alegrias neste período de pouco mais de 4 anos?
Dom Francisco Cota – Destaco sobretudo as alegrias. Entendo que os desafios nos motivam a trabalhar, se dedicar e superar. Nunca vejo os desafios como ameaças. Tenho vontade de lidar com a realidade na perspectiva de que é melhor ver portas do que lamentar muros. Cheguei à Diocese há 4 anos e meio em um momento muito crítico para o mundo inteiro por causa da pandemia da Covid-19. Tudo parou sobretudo para as duas realidades que sou responsável, que lida com o coletivo e a concentração de pessoas em ambientes públicos, o Hospital Nossa Senhora das Graças e a Diocese que abrange 22 municípios e tem 41 paróquias.

SD – Vários municípios da região integram a Diocese. São realidades diferentes em vários sentidos, isso dificulta a missão da Igreja Católica do ponto de vista espiritual e humano?
Dom Francisco – Em linhas gerais a mentalidade e o comportamento das pessoas, devido às tecnologias e meios de comunicação, estão muito nivelados. Temos na Diocese sete comissões e cada uma tem suas prioridades como liturgia, famílias, juventude, ministérios, promoção vocacional, promoção humana, ecologia, educação e cultura. Comissões que congregam as forças vivas da igreja.

SD – Diante desses temas qual apresenta o maior desafio para a Igreja Católica?
Dom Francisco – Com certeza o principal desafio é a família. Ou voltamos a atenção para um trabalho bem planejado de evangelização da família ou teremos dificuldade de avançar com a missão da igreja. Até bem pouco tempo as pessoas se comportavam na região guiadas pela força do tradicionalismo. As pessoas viviam em um meio predominante católico e por isso a integração era natural. Essa realidade não existe mais. O próprio Papa Francisco fala da igreja em saída, temos que sair. As pessoas, com esta evolução dos meios de comunicação, acabam até se desligando da prática religiosa. Por isso temos que ir ao encontro. A realidade das pessoas é o ambiente familiar. A missão da igreja é evangelizar a partir deste ambiente.

SD – Em qual paróquia essas prioridades não foram necessárias?
Dom Francisco – Essas linhas de ações foram necessárias em todos os municípios e paróquias. A Diocese não tinha esta estruturação e cumpria apenas suas obrigações a partir da liturgia como batizados, primeira comunhão, crisma, matrimônio, festas litúrgicas e campanhas. As prioridades foram escolhidas para tornar a missão da igreja mais frutuosa.

SD – O senhor esperava ter uma responsabilidade tão grande como um hospital do porte do Nossa Senhora das Graças?
Dom Francisco
– Quando o bispo é nomeado ele tem consciência que assumirá as demandas da Diocese. Eu não tinha consciência que tínhamos um hospital deste porte. Deparei com esta realidade de ser o presidente da Irmandade Nossas Senhora das Graças que é mantenedora do hospital. Uma unidade de saúde não entra em conflito com a missão da igreja porque trata de dimensões de primeira necessidade na vida das pessoas. Lá conseguimos cuidar dos enfermos de forma ampla.

SD – Qual foi a estratégica para tentar colocar o hospital nos trilhos?
Dom Francisco
– É muito nobre para um bispo poder contribuir nesta missão de prestar melhor assistência aos cidadãos de Sete Lagoas e outros 34 municípios. Tornar o hospital melhor organizado é um desafio diário. Assim como na Diocese, foi preciso definir ações. Quando cheguei não havia diretor geral e diretor clínico. A situação era de fragilidade imensa. O bispo não é responsável pela administração e nem o operacional, mas sim pela formação dos conselhos de administração e fiscal que cuidam do funcionamento e da escolha dos diretores. Nas primeiras reuniões percebi a situação de fragilidade principalmente na gestão operacional e nas dívidas.

SD – As dívidas foram um complicador o início deste trabalho?
Dom Francisco – Era uma carência grande de recursos e muito endividamento. Não havia como cobrir as contas mensais. Foi preciso focar nas prioridades já que o hospital não pode parar para que situações críticas sejam resolvidas. A assistência tem que ser assegurada a qualquer custo. As custas de ter como pagar ou se endividar mais. Entendemos que seria necessário melhorar o corpo a corpo e qualificar a sua administração. Definimos prioridades, fizemos um planejamento estratégico e mudamos a dinâmica do hospital. Naquele momento, o foco era somente para administrar dívidas, mas o certo é administrar o hospital na busca por uma gestão eficiente.

 SD – Quais foram outras ações neste processo de recuperação?
Dom Francisco
– Em seguida partimos para melhorar a relação com a Prefeitura, a maior contratante de serviços que temos. Passamos a conversar diretamente com a administração municipal. Antes eram muito comuns as tensões e os conflitos. Percebi isso dentro do Conselho de Administração e defini: se não temos condições de dialogar quem vai perder não é o hospital e nem o prefeito e sim a população. Mudamos a dinâmica porque a relação é uma mão dupla. Fui ao gabinete do prefeito Duílio de Castro várias vezes e a relação foi sempre muito madura. Nunca fui aos gestores para cuidar de assuntos pessoais, mas sim da Irmandade que é mantenedora do hospital. Os contratos foram melhorados e tudo começou a funcionar melhor. Todos reconhecem o tanto que evoluímos.

SD – E administrativamente quais foram as medidas imediatas?
Dom Francisco
– A qualificação foi contínua. Constituímos um Conselho de Administração com outro perfil. Momento em que um empresário foi eleito presidente, o Rômulo Caetano. Ele começou a desenhar uma outra perspectiva para hospital que era muito depreciado na cidade. Começamos a mudar a imagem para que ele seja mais admirado pela população. Hoje todos entendem que passamos por melhorias progressivas. Além disso, o Rômulo Caetano fortaleceu, com sucesso, o corpo a corpo com o empresariado e começamos a receber recursos de empresários para reformas e compra de equipamentos. Foi possível amparar necessidades que, com os recursos do hospital, não dava.  O próximo passo foi organizar e manter em dia a documentação do hospital. Com assessorias técnicas fizemos levantamentos para reivindicar junto ao Governo Federal melhoras na tabela SUS. Tivemos sucesso ao melhorar os repasses mensais. Outro caminho foi fortalecer o relacionamento com os parlamentares para conseguir emendas para o hospital. A política de recursos para a saúde no Brasil tem este caminho de apadrinhamento. O HNSG é apartidário e, prioritariamente, procuramos deputados que foram votados em Sete Lagoas. Pedimos uma resposta para sua base eleitoral. Ampliamos este caminho e estamos recebendo apoio com maior captação. O planejamento estratégico é uma realidade, inclusive o atual presidente do Conselho é o Aluísio Barbosa, que também tem uma visão empresarial e de gestão muito apurada. Estamos trabalhando o organograma para que tudo funcione de maneira ordenada. Vamos alinhavar as prioridades para que os recursos sejam melhor aplicados e gerem melhores resultados. O plano é trabalhar com transparência, prestação de contas e contensão de gastos.

SD – Uma mensagem final sobre os 145 anos do HNSG.
Dom Francisco – O HNSG é uma demanda coletiva no sentido amplo. Ninguém é responsável sozinho. O apoio de colaborares é fundamental. O bispo tem suas responsabilidades, mas devemos entender que existe um voluntariado que se doa e temos muito a agradecer. Já o operacional funciona de maneira integrada a partir de cada um dos colaboradores que prestam serviço e devem ser respeitados e valorizados. Estamos falando de mais de 1.300 colaboradores. Agradeço a todos pela dedicação e espírito de cooperação mútua. Se podemos celebrar os 145 anos, com muita honra é pelo trabalho que garante o bom funcionamento do hospital. O legado desses 145 anos é muito importante e, por isso, agradecemos a todos que se dedicaram de alguma forma durante toda esta trajetória.

QUEM É 
Dom Francisco Cota de Oliveira é natural de Onça do Pitangui (MG). Nasceu no dia 5 de agosto de 1969, sendo o 4º filho entre 9 irmãos. Estudou o primário no povoado rural de Colônia, na Escola Estadual da Fazenda do Capão, no mesmo Município, onde, ainda hoje, reside sua família. Completou o Ensino Fundamental, então 8ª série, na Escola Estadual Manoel Batista, em Pará de Minas. Fez o Ensino Médio no Instituto Sagrado Coração, em Divinópolis. Cursou Filosofia na PUC – BH (1992-1994) e Teologia no Instituto Dom João Rezende Costa (1995-1998). Enquanto cursava Teologia, foi professor de Filosofia e Sociologia na Escola Estadual de Azurita, em Mateus Leme. Também fez estágio pastoral na Paróquia São Joaquim, em São Joaquim de Bicas; na Pastoral Vocacional Diocesana; na Comunidade São José de Serra Azul, Município de Mateus Leme; e na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Itaúna (MG).

Ordenado sacerdote no dia 1º de agosto de 1999, pela imposição das mãos de Dom José Belvino do Nascimento. Dom Francisco trabalhou em três paróquias da Diocese de Divinópolis, sendo: de 1999 a 2009, na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Carmo do Cajuru (MG); de 2010 a 2017, na paróquia de Sant’Ana, em Itaúna (MG); e, a partir do dia 29 de janeiro de 2020, iniciou os trabalhos na Paróquia Nossa Senhora do Pilar, em Pitangui.

Foi Coordenador Diocesano da Pastoral da Juventude. Lecionou Iniciação doutrinária (Catecismo da Igreja Católica) no Seminário Propedêutico da Diocese. Lecionou Iniciação à Lógica, no Curso de Filosofia da Diocese. É Promotor de Justiça na Causa pela Beatificação do Servo de Deus Padre Libério. Foi Assessor Diocesano do Movimento de Cursilhos de Cristandade e Diretor Espiritual Diocesano do ECC 3ª Etapa. Vigário Forâneo por 3 mandatos e por fim, foi membro do Conselho Econômico Diocesano como Ecônomo Adjunto.

No dia 7 de junho de 2017 foi nomeado bispo titular de Fiorentino e auxiliar de Curitiba. Tomou posse como bispo da Diocese de Sete Lagoas no dia 1º de agosto de 2020.