Neuropediatra destaca a importância do diagnóstico precoce, o papel das escolas e os avanços no atendimento a pessoas com TEA em Sete Lagoas

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda é cercado de dúvidas para muitas famílias e profissionais da educação. Para esclarecer os principais pontos sobre diagnóstico, graus do espectro, sinais iniciais e os desafios enfrentados por pessoas autistas, conversamos com a Dra. Soraia Moura Goulart (foto acima), médica neurologista infantil, membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) e especialista em Transtorno do Espectro Autista pela UFMG. A seguir, a entrevista completa:
1. Como caracterizar o autismo?
É um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por comprometimento na comunicação, na interação social e comportamentos repetitivos e/ou estereotipados.
2. Como os especialistas classificam o autismo?
O autismo é classificado como um Transtorno do Espectro Autista (TEA). O termo “espectro” reflete a ampla gama de sintomas e gravidade que podem ocorrer em pessoas diagnosticadas. Os profissionais podem usar critérios como os do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) para identificar e classificar o autismo, que abrange dimensões como dificuldades de comunicação, interação social e comportamentos repetitivos.
3. Existem diferentes graus de autismo?
Sim. O autismo é classificado em diferentes graus ou níveis de gravidade, geralmente conforme a necessidade de suporte. O DSM-5 define três níveis de suporte para o TEA:
- Nível 1: Requer suporte. As dificuldades em socialização e comunicação são notáveis, mas a pessoa ainda pode ter habilidades funcionais.
- Nível 2: Requer suporte substancial. A comunicação e as interações sociais são mais restritas e a pessoa necessita de mais assistência em atividades diárias.
- Nível 3: Requer suporte muito substancial. A pessoa apresenta desafios significativos em comunicação e comportamento, necessitando de suporte constante.
4. Qual é a vantagem do diagnóstico precoce sobre o autismo?
O diagnóstico precoce do autismo é crucial, pois permite intervenções mais eficazes e direcionadas desde cedo. A detecção precoce ajuda a minimizar sinais futuros e a promover avanços no desenvolvimento e na qualidade de vida das crianças e seus familiares.
5. Em que fase da vida aparecem as primeiras manifestações do TEA?
As primeiras manifestações geralmente aparecem na primeira infância, com sinais já presentes desde bebês.
6. Homens e mulheres possuem as mesmas chances de ter autismo?
Na verdade, não usamos o termo “desenvolver”, pois o autismo é uma condição predominantemente genética — as pessoas já nascem com ele. Há uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Estudos mostram que o TEA é mais comum em meninos do que em meninas, com uma razão estimada de 4:1. No entanto, é importante destacar que meninas podem apresentar sinais diferentes ou menos evidentes, além de utilizarem o masking ou “camuflagem” — uma estratégia para esconder seus sinais — o que pode levar a um atraso no diagnóstico.
7. As escolas comuns de Sete Lagoas estão preparadas para receber alunos autistas?
A preparação das escolas comuns pode variar significativamente. Embora a inclusão tenha avançado, muitas instituições ainda enfrentam desafios quanto à formação de professores, recursos pedagógicos e suporte especializado. É importante verificar diretamente com cada escola sobre suas capacidades e programas de inclusão.
8. As redes públicas e privadas de saúde de Sete Lagoas têm condições de atender bem pessoas com autismo?
O atendimento em saúde para pessoas com autismo nas redes públicas e privadas varia. Embora existam serviços disponíveis, podem ocorrer limitações em termos de recursos e especialização. É recomendável procurar informações específicas sobre os serviços oferecidos na cidade.
9. Atualmente, quais são os principais desafios quanto ao autismo?
Os principais desafios relacionados ao TEA incluem:
- Falta de conscientização e compreensão: Muitos ainda carregam estigmas ou mal-entendidos sobre o autismo, o que afeta a aceitação e a inclusão.
- Acesso ao diagnóstico e tratamento: Algumas famílias têm dificuldade para obter diagnósticos precoces ou acessar serviços de terapia e apoio adequados.
- Educação inclusiva: Embora tenha havido avanços, muitas escolas ainda não têm recursos ou capacitação necessária para atender adequadamente alunos com TEA.
- Transição para a vida adulta: Há uma lacuna significativa nos serviços de apoio para essa etapa, como inserção no mercado de trabalho e vida independente.
Dra. Soraia Moura Goulart
Neurologista Infantil
Membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI)
Especialista em Transtorno do Espectro Autista pela UFMG