A NOSSA HISTÓRIA: NÓS, OS ADOLESCENTES!

Por Amauri Artimos

Certo dia, fui convidado a participar de uma reunião – chamada “grupo focal de adolescentes” – para contribuir com o diagnóstico da situação da criança e do adolescente em nossa cidade, que estava sendo elaborado, a pedido do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA-SL). Então, participei do trabalho com outros dez adolescentes, de bairros diversos. Percebi que a metade do grupo queria estudar e trabalhar, como aprendiz. A outra metade pretendia só estudar. Encontrar uma boa profissão era um sonho! Contudo, alguns não sonhavam com isso. Os desejos eram diversos: ingressar no mundo das artes; seguir a carreira jurídica; ser paraquedista; conhecer outros países; sair de Sete Lagoas … Descobri que a metade dos participantes não gostava de morar na cidade. Falta de segurança, de cultura e de lazer estavam entre os motivos. Gostariam de ter oficinas de danças, rodas de conversa sobre a história da cidade e encontros, com intercâmbios dos bairros. A Serra de Santa Helena foi mencionada, pela sua beleza. O ambiente escolar – concordávamos – sempre foi importante na formação das pessoas: ali construímos  a nossa identidade e percebemo-nos como sujeitos no mundo. Alguns do grupo disseram não confiar ou não possuírem abertura para falar de certos assuntos com os pais. O ambiente escolar permite isso. Pena que uma parcela considerável não gostava da escola em que estudavam. Outros disseram que estavam no colégio por causa das brigas, o que os entusiasmava. Elas ocorriam dentro da escola e nas proximidades dela. Faziam até vídeos e postavam nas redes sociais. Briga de mães, então, adoravam! Esse é um assunto muito sério que a escola não pode deixar de intervir. Em certo caso de briga, a escola foi acionada e nada fez. Houve quem dissesse que os alunos podiam se “matar” e que iriam chamar a polícia e o Samu para eles. Isso foi um estímulo para a turma se mobilizar e brigar mesmo! Na rua da escola tem hora marcada para a briga. Até facada já houve na escola. A violência, aliás, está nos espaços de convivência, como bares e praças. É preciso difundir a cultura da paz.    

Constatei que a ansiedade e a depressão fazem parte da vida e da rotina dos jovens. Padrões estéticos e falta de acesso a produtos veiculados na mídia são causas de dores emocionais, que acabam virando dor de cabeça, dor no corpo, queda de cabelo, dentre outros sintomas. O “bullying” é um tipo de violência e se destaca como um problema na escola. Violência psicológica! Todos têm consciência de que ela afeta a saúde mental dos alunos. Intolerância às diversidades: a escola não pode se omitir sobre esse tema. Não deve achar que se trata de brincadeira e que os alunos devem resolver entre eles, ou que o racismo e a gordofobia sejam algo natural. Humilhar alguém pode levar à automutilação. As escolas devem ter psicólogos para lidar com isso. Pelo menos um em cada instituição de ensino. Intolerância religiosa também ocorre. Nos diálogos que mantivemos, duas escolas foram elogiadas por trabalhar esse tema. Outra, foi criticada porque um trabalho sobre a umbanda foi proibido pela Diretora. Uma menina, que estava usando uma guia de umbanda, não participou da aula, pois o professor não deixou. Há, também, o “bullying” virtual. É ainda mais grave, pois as agressões ocorrem de forma anônima. Percebi que parte do grupo se divertia em grupos virtuais de “bullying” e fofoca. 

Celular: foi bom para acompanhar as aulas virtuais durante a pandemia. Mas é um problema na sala de aula, quando o aluno fica nas redes sociais e não consegue acompanhar a matéria dada pelo professor. Postos de saúde: o atendimento não é satisfatório e a marcação de consultas demora demais! Uso de álcool e drogas: é algo normalizado entre os adolescentes. Ocorre na porta da escola e nas praças. É preciso coibir o acesso às drogas dentro da escola. Saúde e vida sexual: são temas bastante discutidos entre os pares. A vida sexual começa na adolescência (12 e 13 anos), ou antes dela (10 anos). Há consciência de que as pessoas precisam amadurecer mais, antes de se relacionar sexualmente. A gravidez na adolescência também é algo sério. Concluindo, a roda de conversa dos adolescentes foi muito produtiva e contribuiu com a elaboração do diagnóstico da situação da criança e do adolescente em Sete Lagoas. Assinado: um adolescente preocupado com o futuro do país! Na foto: uma reunião do Comitê de Participação dos Adolescentes (CMDCA-SL).