A NOSSA HISTÓRIA: Deve Ser Paraopeba!

Por Amauri Matta

Nesta sexta-feira, às 19h30min, o Coral Dom Silvério receberá, em seu palco sagrado, a segunda “Roda de Conversa” da série “De Mãos Dadas Com a História”, que contará a história de Caetanópolis, antes Distrito de Paraopeba, do qual veio emancipar-se (12-12-1953). Paraopeba, por sua vez, foi Distrito de Sete Lagoas, até a sua emancipação (30-08-1911). E tudo começou com a chegada da Fábrica de Tecidos do Cedro (12-08-1872). Adriana Andrade, Edna Pires e Jones Silva – autores do livro “O Mistério da Terra de Clara Nunes” (São Paulo: Madras Editora Ltda., 2018) – irão contar essa bela história, acompanhados da pesquisadora Mariza da Conceição Pereira e do gerente da Fábrica de Tecidos Cedro e Cachoeira, em Sete Lagoas, Euler Estanislau. Percorreremos os passos de Caetanópolis, desde a chegada dos irmãos Mascarenhas – Antônio Cândido, Bernardo e Caetano Mascarenhas – conhecidos como o “famoso ABC da indústria têxtil em Minas”. Mais tarde, na noite enluarada da terra dos Lagos Encantados, o mistério da terra de Clara Nunes – onde a cultura fala mais forte – será decifrado. E você, leitor, é nosso convidado especial! Por ora, iremos homenagear a cidade mãe dela, Paraopeba, berço dos intelectuais, com a republicação de uma das festejadas crônicas do saudoso JOVELINO LANZA, com a costumeira pitada de humor:

“Ontem, ao passar pela Casa Comercial Santa Efigênia, patrocinadora deste programa, não resisti à tentação de perguntar ao seu proprietário se ele era natural de Paraopeba ou se residiu lá por algum tempo. Somente uma pessoa de Paraopeba se lembraria de organizar uma casa comercial tão complicada, onde há de tudo, desde o mais útil e bom artigo até o mais extravagante. Eles próprios, os donos – pois são um casal – são diferentes de nós outros. Vejam se Paraopeba, a cidade, não é também assim: tem de tudo, do bom e do melhor; mas tem também coisas que nas outras cidades, supostamente maiores e mais cultas, não existem. 

Vamos enumerar: a porcentagem de intelectuais em Paraopeba é a maior do mundo quanto à sua população, pois que se lá existem dez mil habitantes, sete mil, pelos menos, são portadores de títulos. Em todos os quadrantes do Brasil, encontram-se filhos de Paraopeba exercendo as mais variadas funções: tomando parte na vida administrativa do país, nos hospitais, na magistratura, no magistério, nas fábricas, no comércio, enfim, em todos os setores da vida, inclusive no jornalismo, e neste os da têmpera de Jair Silva. Paraopeba teve até um bispo, Dom Cirilo de Paula Freitas, que agora vive somente em nossos corações. Homens da envergadura do professor Sabino de Paula Freitas e de Olímpio Moreira, que, como prefeitos, incluíram na arrecadação do município Cr$ 3,00 da venda de jornais velhos, como papel de embrulho. O Dr. Guilherme Mascarenhas Dale, que não abandonou nada e ainda cuida da Sociedade Rural, conseguindo maiores benefícios para o progresso de Minas. A Chiquinha, secretária da Prefeitura, sempre com seu sorriso espontâneo, que traduz a sua bondade; Depois, um Manuel Antônio da Silva, que sustentou um jornal quarenta e tantos anos; Paraopeba tem um violino Stradivarius; E depois vem o nosso Zé Maia, que certa vez lançou nas despesas municipais: “Milho para a besta da Prefeitura = Cr$ 5,00”; E Sô Gui (Aguinaldo Edmundo), sujeito de grande inteligência. Não me consta que tenha qualquer título. Entretanto, é capaz de fazer discursos de três horas ininterruptas, com verdadeira eloquência, citando os maiores vultos da História Universal. E temos ainda o Aristides Nascimento, com seu largo cinto, enfeite para a volumosa barriga; Havia o Alonso Veiga, com sua criação de gatos. Ah! Você não sabia? Pois ele possui mais de trezentos gatos; e o Zé Dale, com o seu costumado “Queira-me bem”, sempre às turras com o Geraldo Carlos por causa da Rua da Palha, etc. Por tudo isso, pareceu-me que o do dono da Casa Comercial Santa Ifigênia fosse natural de Paraopeba. Mas enganei-me: mera coincidência” (Rádio Cultura: A Crônica do Dia. Escrita por Jovelino Lanza. Apresentada no dia 08-06-1949. Por Wilson Tanure. Horário: 11:30 horas).