COLUNA CATÓLICA

O mito do controle.

Somos mestres em repetir a máxima de uma sociedade dominada pelo mito do controle. Dizemos assim: “a receita para a vida realizada é a capacidade de controlá-la em 360°”. Achando que estamos no controle de tudo e de todos, enganamos nosso olhar para que não seja direcionado ao que precisa ser enfrentado. Preferimos coisas mágicas, respostas momentâneas e nunca temos tempo. Quanto mais ocupados com as ilusões do controle, mais nos perdemos diante das grandes escolhas de vida, escolhas que fazem a diferença, caminhos que podem nos levar ao futuro. Não nos damos conta de que temos o controle sobre muito pouco, ou quase nada. Ilusão infantil e imatura construída por uma cultura de descarte e insaciáveis desejos. Uma mentalidade assim, foge do princípio da real dade, e facilmente cresce a angústia por não saber lidar com o inesperado. Nos tornamos, na verdade, completamente descontrolados com questões básicas e cotidianas, alimentação, saúde mental e física, descanso e lazer, amizades, fraternidade. A vida vai seguindo sem muito sentido e escutamos algumas lamúrias como: o tempo está voando! No Evangelho Jesus observa uma pessoa que fazia um movimento diferente e carregado de sentido. Uma mulher, cujo nome não é revelado no texto, viúva e sem grandes controles de nada, coloca no cofre do templo tudo que tem, uma moeda. Por trata-se de uma viúva já sabemos que naquele tempo, elas nada tinham, eram abandonadas e faziam parte do grupo mais vulnerável, mais pobre da sociedade bíblica. Ela não tinha nada? Tinha sim! Uma moeda. Parece descobrir que se entregasse o que tinha, o controle estaria garantido. Ela dá tudo que tem. Ganha a certeza de que tem o controle real sobre sua liberdade e confiança fervorosa Naquele que é o Senhor das nossas vidas. Temos aprendido muito nas adversidades da história. Às vezes estamos em um momento de muita importância e achamos que temos controle e poder. Logo o tempo passa, somos surpreendidos pela vida. Passa a juventude, a saúde, o poder, a influência e se não aprendemos que somos apenas servos inúteis, a decepção será enorme. Ainda que a realidade seja insuportável para quem vive em tempos de tanta mendicância de valorização e reconhecimento, é urgente libertar-se da ilusão do controle.

por Evandro Bastos evandroabastos@yahoo.com.br