O contrário do silêncio não é o barulho!

Por Padre Evandro Bastos

Durante uma noite de meditação e reflexão profunda no Retiro Anual do Clero de Sete Lagoas, uma provocação chamou minha atenção: Qual o contrário do silêncio? Confesso que não pensei duas vezes em responder: o barulho! Quando para minha surpresa ouvi um extenso: Não! O contrário do silêncio é a SUPERFICIALIDADE.

Nunca havia parado pra pensar nessa realidade. Durante um retiro espiritual é fácil encontrar espaços e momentos para um silêncio intenso e demorado. Entretanto, sei e vivo uma rotina bem diferente neste sentido. A praça onde moro, num bairro às margens de uma estrada super movimentada, em uma cidade que cresce muito agitada, em um estado todo queimado, num país confuso e barulhento, só me fez pensar nisso: o contrário do silêncio seria, a princípio, um retrato do caos que já se tornou rotina. Tudo muito agitado, barulhento, cheio de respostas prontas e pouco pensadas.

A agitação constante, o ronco dos motores e máquinas, os sons automotivos, o grito das crianças do escolar, o movimento e musicalidade da fanfarra da escola, os jovens na quadra, a cantoria do bar da esquina, as sirenes das ambulâncias ou da polícia, fazem parte daquilo que está em nossa rotina. Não há como fugir e nem fingir que não estamos envolvidos neste tempo caótico, turbulento e mega acelerado.

Daí, ao ouvir que o contrário do silêncio é a superficialidade despertou em mim uma preocupação e me colocou ansioso nessa reflexão. De fato, quando não paramos para repensar os ritmos da vida, vamos colocando tudo no mesmo balaio do superficial. A vida vai sendo levada para um lugar sem referências mais profundas e dinâmicas raízes fortes que não podem ser levadas por qualquer ventania.

No silêncio, a oportunidade de encontrar-se, fortalecer e clarificar convicções produz maturidade, segurança e firmeza para a jornada. É quando conseguimos, mesmo em meio as agitações da vida, silenciar e enfrentar as turbulências da falta, que o profundo emerge e nos conduz para outras tantas intensidades de sentido e vida. Procure deixar o silêncio falar! Saia da superficialidade que empobrece e busque uma experiência transformadora de vitalidade.