Por Juninho Sinonô
Entrelinhas
Posicione-se!
“Conheço as tuas obras, sei que não és frio nem quente. Antes fosses frio ou quente! E, por este motivo, porque és morto, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”. (Apocalipse, 3:15 e 16)

Durante a semana recebi de outro jornalista o vídeo em que determinado representante da gestão pública era acusado por um cidadão de estar agindo com improbidade em suas funções.
No contexto do vídeo, feito dentro de um hospital, o funcionário, da área da saúde, estava a trabalho, manuseando uma maca e adentrando às instalações, em plena atividade laborativa.
Visto o vídeo, respondi ao colega que aguardava ansiosamente minha concordância com o seu apontamento: “viu que absurdo praticado pelo secretário?!”
E para a sua nítida decepção jornalística devolvi com um sonoro: “NÃO! NÃO VI ABSURDO NENHUM. SÓ UM MÉDICO SENDO INTERROMPIDO NO MEIO DE DEZENAS DE PESSOAS AGUARDANDO ATENDIMENTO”.
A frustração do colega fora repartida em duas esferas. Na primeira, se por acaso eu era amigo do envolvido e por isso estaria o defendendo ou então, se eu não havia compreendido o que aconteceu.
Quanta a primeira, respondi que não era amigo íntimo, mas conhecia bem o profissional, ao ponto de já ter sido seu paciente, sem que isso, contudo interferisse no meu juízo de valores naquele momento.
Mesmo porque paguei bem caro pelo atendimento e o cargo público por ele exercido não me traz qualquer benéfico. Pelo contrário, atrasou bastante a minha consulta.
Graças ao bom Deus, tenho o privilegio de não precisar recorrer a saúde pública, que realmente é o caos e está aquém do que nossa legislação DETERMINA, frisando que não somos o caso isolado, sendo infelizmente a realidade do país.
Depois que sim, havia visto o vídeo por três vezes e que não concordava com a opinião dele e nem dos haters das redes sociais, ainda que isso pudesse me levar a vala dos apedrejados.
O que me levaria a “entrar em uma briga que não era minha”?
Meu posicionamento consciente. Inclusive no que tange ao pensamento de que manifestar opinião contraria não significa entrar em briga alguma.
O caso laureado não é foco dessa conversa, mas veio a calhar.
Estamos na era em que somente mata a cobra e mostra o pau, sem aparecer os motivos das pauladas e por vezes sequer quem os deferiu.
Quem disse que toda cobra fez algo de errado?
Não sou ativista para defender a vida de todas as cobras e nem “matador” para condena-las de imediato pelo julgamento parcial dos outros.
Recorro ao Aposto João, em presar por não ser “morno”.
Ou assumo a frieza de não adentrar no assunto eu entro em chamas, no calor de interceder com a opinião formada conforme meus princípios e ideias, seja a situação qual for.
Mas morno jamais, sem a conivência para que concluam por mim.
Coitados dos que seguem o mantra do “filósofo” Zeca, do “deixa a vida me levar, vida leva eu”.
Coitado de quem não se importa com as outras pessoas, sejam elas quem forem, tiranos ou mocinhos.
Como bem diz Claudio Duarte, “o lobo sempre será mau aos olhos da Chapeuzinho Vermelho”.
Retornemos ao vídeo.
Sou impossibilitado de manifestar sobre as alegações feitas, ante o desconhecimento, o que me proíbe a condenação ou absorção dos dois envolvidos.
Mas repito que se há algum absurdo, está na forma que quem aborda, manifesta sua indignação.
Se há alguma boa intenção ali, não foi adotada a maneira correta.
Notem que ao descrever o autor do vídeo, o refiro como “alguém”. Porque eu não sei quem ele é: paciente? acompanhante? funcionário? empresário do ramo de ambulâncias?
Não vejo o resto de quem acusa. Não basta dar o endereço. e o destinatário da mensagem. É preciso saber do remetente.
Na linguagem popular: dar as caras.
Quanto as acusações: o funcionário, foi abordado frente ao celular, inicialmente com a reclamação da falta do aparelho de tomografia naquela unidade. Em sequência, veio a acusação dele estar fazendo transporte particular de pacientes ao hospital, sendo que deveria prestar assistência exclusiva ao cargo que ele ocupava.
Afinal de contas, qual foi a acusação: da falta de tomógrafo ou do transporte de pacientes em ambulância particular?
A conversa destoou para a segunda alternativa.
Veio-me a lembrança de um dos motivos da condenação de Jesus: realizar milagres aos sábados.
Quer dizer que se não houverem ambulâncias públicas disponíveis, é melhor deixar o paciente morrer que arrumar um particular?
Opa... me envolvi demais.
Troco a pergunta por outra menos parcial: Onde está o paciente transportado na ambulância particular, se isso é de fato algo criminoso? É ele quem reclama ou faz o vídeo?
Deixa esse vídeo para lá, porque não é problema meu.
Ou seria sim, de todos nós, não só pela saúde pública, mas pela falta de posicionamento lúcido daquilo que é coerente, ainda que não nos seja vantajoso?
Se prezo por não ser morno, volto ao meu posicionamento:
É SIM PROBLEMA DE TODOS NÓS!