O que aconteceu com Izabelle?

A morte de Izabelle Cristine Figueiredo Correia, de 19 anos, aconteceu no dia 2 de abril de 2021, após uma queda de escadas no bairro Luxemburgo. Seis meses depois, a busca pela verdade continua

01/10/21 - 13:52

Neste sábado completam seis meses da morte de Izabelle Cristine, no bairro Luxemburgo
Neste sábado completam seis meses da morte de Izabelle Cristine, no bairro Luxemburgo

Por Roberta Lanza

Tem ganhado destaque na mídia estadual e também nacional a morte de Izabelle Cristine Figueiredo Correia, de 19 anos, após uma queda de escada no bairro Luxemburgo, há seis meses. 

Uma morte envolta em dúvidas e suspeitas fez com que Ministério Público determinasse que a Polícia Civil reabrisse o caso ocorrido em Sete Lagoas. De acordo com Boletim de Ocorrência registrado pela Polícia Militar no dia 2 de abril deste ano, “...acionados pelo COPOM, comparecemos ao local do fato onde em contato com a Dra. Eliane Zamora Domingues, médica do SAMU, a mesma nos narrou o seguinte fato: que fora acionada para atender uma jovem vítima de uma queda da escada, que no local foi realizado RCP por cerca de 20min, sem sucesso, vindo a vítima a óbito às 22h41”. 

De acordo com as testemunhas, por volta de 16h, três casais de namorados se reuniram na casa de Rafael Dias Sales, amigo do namorado de Izabelle, Jamerson Carlos Martins, e que durante a reunião fizeram uso de bebida alcoólica, tendo a jovem tomado cerca de três garrafas de um coquetel alcoólico gaseificado. A mesma alegou estar passando mal do estômago e com dores, teria ingerido um comprimido de Paracetamol e um frasco de Epocler, deitando-se por alguns instantes. 

Em seguida, os amigos resolveram acabar com a reunião, tendo a vítima se retirado da frente do grupo. No entanto, o namorado Jamerson gritou por socorro, relatando que Izabelle havia sofrido uma queda da escada. “De imediato acionaram o apoio do SAMU, pois perceberam que a vítima não estava consciente. O Sr. Rogério Moreira de Sales, proprietário do imóvel, nos narrou que iniciou massagem cardíaca na vítima antes da chegada do SAMU, e que a vítima não apresentava sinais de melhora. Diante dos fatos, acionamos a perícia local, tendo comparecido o perito Frederico, qualificado em campo próprio, juntamente com o rabecão que conduziu o corpo o IML.”, consta na ocorrência policial.

Em depoimento à Polícia Civil, à delegada Fernanda Mara de Assis Costa, Catiane Geralda Figueiredo, mãe de Izabelle, afirmou que a filha nunca foi de farra e que as coisas mudaram depois que começou o envolvimento com Jamerson, há nove meses. “Ele foi o primeiro namorado dela e depois que eles começaram a se envolver as nossas vidas viraram de cabeça pra baixo. Ela, que não era de sair e nem de beber ou usar drogas, começou a sair direto e fazia tudo que Jamerson queria. Ela começou a se afastar de mim e vivíamos brigando porque eu ia corrigi-la e ela não aceitava. O namorado nunca ia à minha casa, pegava ela e saía. O negócio dele era sair e ficar com a turma”, contou. 

Ainda de acordo com Catiane, Izabelle saiu de casa no dia primeiro de abril, dizendo que ia a Curvelo com o namorado. No dia seguinte, ela teria falado que como estavam fora da cidade, o sinal de telefone estaria ruim e então não mais se falaram. Mais tarde, por volta de 23h45, Catiane foi surpreendida com a notícia de que estavam em Sete Lagoas e que a jovem havia bebido, caído das escadas e falecido.

Também em depoimento à Polícia Civil, Euclides Martins Figueiredo, avô de Izabelle, afirmou que recebeu a notícia da morte da neta em diferentes versões: a de Jamerson, da mãe dele, do dono da casa onde estavam e de um farmacêutico que também estava na festa.  “A história foi muito mal contada. Cada um falou uma coisa diferente. Um falou que ela estava deitada na cama com dor nas pernas. Aí o rapaz que trabalha na farmácia deu um remédio a ela e que, depois que saiu do quarto, ela caiu das escadas. Outro falou que ela estava no quarto sozinha enquanto as pessoas bebiam fora da casa e que ela caiu da escada porque havia bebido algo forte. Cada um conta uma história diferente e se todos estavam na casa, todos deveriam falar a mesma língua, mas não foi o que aconteceu”, observou.
 

História não convenceu o Ministério Público

Cerca de uma semana após o ocorrido, a mãe, o avô e o tio de Izabelle visitaram o local do acidente. O dono da casa então mostrou as escadas, contando detalhes que não convenceram. 

“A escada lá tem três partes e cada parte contava com 10 degraus. O estranho é que pelo que o dono da casa nos contou, faltavam apenas três degraus para chegar ao chão quando ela caiu. Achamos estranho, pois não tinha como ela se machucar tanto caindo de apenas três degraus. Tem alguma coisa por trás do que foi dito, além dessa queda”, afirmou Euclides, avô de Izabelle. 

 O corpo da vítima passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) e o resultado foi controverso à versão relatada. Em testes realizados, foram colhidos fragmento de fígado e estômago, além de sangue e conteúdo para exames toxicológicos e dosagem de teor alcoólico para auxiliarem no esclarecimento das circunstâncias do óbito, não tendo sido encontrada nenhuma amostra de drogas, álcool ou medicamentos no corpo da jovem.

O inquérito policial foi arquivado em 21 de agosto. De acordo com o documento, não houve provas colhidas nos autos que indicassem que ocorreu homicídio no local dos fatos. Os advogados da família de Izabelle, entretanto, entenderam que faltaram várias diligências a serem cumpridas, como perícia no celular da vítima, e que, portanto, a investigação não foi concluída a contento. 

Os advogados ainda solicitaram junto ao Ministério Público que fosse determinado que a Delegacia completasse as investigações. O MP entendeu a necessidade da ação, determinando a reabertura do caso e emissão de relatório sobre o que aconteceu de fato com a jovem naquela noite do dia 2 de abril.

No dia 24 de setembro, a Polícia Civil recolheu o notebook e celular de Izabelle para novas perícias.  A quebra de sigilo telefônico dos envolvidos também foi solicitada. “É uma dor sem tamanho, que não desejo a ninguém. Minha vida acabou após a morte da minha única filha. Espero que a justiça se faça. Perder uma filha é o pior sentimento do mundo, sem saber a verdade sobre o ocorrido é ainda mais doloroso”, desabafou a mãe, Catiane Figueiredo, que aguarda novidades sobre o que de fato aconteceu à filha.

Foram colhidos fragmento de fígado e estômago, além de sangue e conteúdo para exames toxicológicos e dosagem de teor alcoólico para auxiliarem no esclarecimento das circunstâncias do óbito, não tendo sido encontrada nenhuma amostra de drogas, álcool ou medicamentos no corpo da jovem.

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