Nossa História - Renê Guimarães

06/04/22 - 10:56

O poeta Renê Guimarães
O poeta Renê Guimarães

Amauri Artimos da Matta

“Eu visitei um grande homem que não conhecia. Fiz músicas para as suas poesias. Entreguei-me às suas rimas e melodias. E fiquei cantando em sua companhia. Seus versos são frutos de uma voz amiga. Sentimentos colhidos no pomar da vida. Falam de gente ... amadas e sofridas. Não deixam que elas silenciem. De tão iluminados, foram feitos para o amanhã. E hoje nos encontram. Doam todos os sentidos. Têm o sabor da caridade. E nos enchem de alegria. Suas doses de paixão me embriagam a cada dia!” (RENÊ GUIMARÃES, Amauri da Matta). 

Fiz esse poema para o grande poeta Renê Guimarães. Suas poesias, publicadas na obra “E o Poeta Falou”, mostram toda a beleza de sua arte (Belo Horizonte: Editora Leme, 1994). Foi assim que conheci o poeta: lendo os seus belos sonetos. Para minha felicidade, foi o livro dele que peguei, na estante, e fui ler…  na virada do ano. Era o início de 2018. Suas poesias, além de belas, têm rimas e melodias. Daí, foi um passo para musicá-las. A primeira canção enviei a Márcio Vicente, seu genro, que ficou feliz e disse que a família tinha ouvido e gostado. Um samba-canção, inspirado no poema “In-Extremis”: “Não chores porque eu vou morrer, querida …”. Continuei fazendo as músicas e todos me incentivavam a seguir com o trabalho, que estava claro: divulgar a obra do poeta através das músicas. Fiz alguns encontros em minha chácara, na Fazenda Velha, com os artistas e a família de Renê. Todos regados a uma boa conversa e música. No dia 07-07-2019, realizamos um primeiro show - Tributo a Renê Guimarães - no auditório da UNIFEMM, apresentando dezoito músicas. Dinilson Barbosa, que também já havia musicado as poesias do poeta, interpretou “Vera Lúcia”, uma seresta digna do seu talento. Parece que Renê Guimarães sabia o que iria acontecer, pois no soneto – “E o Poeta Falou” – já dizia: “Serei cantos de amor, serei baladas. Serei lembrança para as gerações. Nelas flutuarei como memória”. Aliás, foi essa poema que cantei na abertura do show. 

Renê Guimarães, como bom boêmio, era sentimental e transformava a sua emoção em poesias. Não tinha hora para fazê-las, nem um local para reuni-las. Escrevia em qualquer lugar: papéis diversos, páginas de livros e cadernos. Dona Veneranda Filizzola, sua esposa – a quem chamava carinhosamente de Vanda – ia guardando as poesias escritas. 

Renê Guimarães era humanista. Falava de gente: do pai (Herança), da esposa (Minha Esposa, Noivado, Via Sacra), da filha (Vera Lúcia), das crianças (Crianças). De emoções: do amor (Encantamento), da sensualidade (Mulata), da despedida (Lembrança), dos amores passados (Cabelos Brancos). Da natureza: do rio (Rio da Minha Terra), da noite (A Noite), da morte (Libertação). De história (Tiradentes). De religião (Evangelho). Das pessoas humildes: do operário (O Fim do Operário), do lavrador (Semeador), da fome (Revolta). De liberdade (Aspiração). De sua cidade (Santa Luzia, Minha Aldeia). 

“Em exortação aos valores espirituais” – disse Ronaldo Filizzola ao prefaciar a obra do pai – “o prefeito Sergio Emilio Vasconcelos fez inscrever numa placa de bronze, na Ilha do Milito, na Lagoa Paulino, dos dois tercetos de Minha Aldeia. Os versos, de rara beleza plástica e filosófica, são lidos e copiados pelos visitantes. “Eu vinha para a vida esperançoso/de ser grande, ser rico, ser famoso/mas, de manhã, via pássaros em bando/e parei para ouvi-los um segundo/E fiquei entre os pássaros cantando/e nunca mais me lembrei do mundo” (pág. 11). Márcio Vicente, seu genro, que organizou o livro, dizia que o soneto “E o Poeta Falou” era muito especial, pois, em sua opinião, descrevia o próprio Renê Guimarães. 

Com ele, termino estas breves linhas: “Eu nada fui e nem quis ser na vida. Origem inviolável dos destinos. Sou uma harpa eólia que ferida, Pelo sopro da dor, desfaz-se em hinos. Sou uma flauta harmônica e sentida. Morrerei como morrem os violinos. Minha alma ficará erma e perdida. Para os aflitos, para os peregrinos. Serei cantos de amor, serei baladas. Serei lembrança para as gerações. Nelas flutuarei como memória. Serei luz das retinas apagadas. Músicas para as bocas sem canções. Consolo para as almas sem história” (E O POETA FALOU). Renê Guimarães nasceu em Santa Luzia (23-05-1904) e faleceu em Sete Lagoas (28-06-1966). Seus versos nos inspiram. Resistem ao tempo, como doação, para ficar em nossa história… eternamente.

AMAURI ARTIMOS DA MATTA é Promotor de Justiça aposentado, diretor do Grupo Mão Amiga e presidente do Coral Dom Silvério

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