Nossa Gente: Vanessa Karam | Arquiteta relembra momentos mágicos em SL e fala sobre o que pensa para a cidade

05/10/20 - 13:00

Vanessa se inspira em diferentes partes do mundo, mas Sete Lagoas está sempre presente
Vanessa se inspira em diferentes partes do mundo, mas Sete Lagoas está sempre presente

Embora tenha nascido em Belo Horizonte e vivido os três primeiros anos de vida à beira do rio São Francisco, em Pirapora, a arquiteta Vanessa Karam Rosa é uma setela-goana de coração. apaixonada pela cidade e pelo que tem vivido aqui nos últimos 46 anos. Tendo em seu portifólio clientes como Embrapa, Unimed, Miika Nacional e outras empresas e instituições de renome, recentemente vem recebendo elogios pelo projeto das novas instalações da Leagel América do Sul, indústria italiana com tecnologia de ponta e que atua no setor alimentício. Vanessa também nutre especial carinho por seus projetos residenciais, marcados pela praticidade e aconchego. Casada com o empresário Sérgio Oliveira (Motorsete), vive uma vida discreta, mas cheia de boas histórias para contar.

 

Quais são suas lembranças de infância e adolescência em Sete Lagoas? 

Fui uma criança e adolescente extremamente feliz, cercada de muito amor. Vivíamos em uma casa pequena ao pé da Rua João Pinheiro, quase esquina com a Paulo Frontin. Morar perto da escola me permitia ir a pé às aulas, reunindo os colegas no curto trajeto de boas risadas. A meninada era livre, ainda que extremamente respeitosa aos pais. Brincávamos até tarde na rua: jogos inventados, bolas de meia, guisados em panelinhas de barro. Dançava jazz no Lia Salgado e fazia aulas de piano com a Tia Querida. Nos fins de semana, banhos de piscina na AABB e brincadeiras na Escola da CEMIG. Subia em árvores e comia fruta no pé: delícias inesquecíveis.

Minha infância foi sabiamente prolongada até poder, aos quinze anos, usar meu primeiro salto alto e frequentar as horas dançantes do Iporanga. Carnavais na Praça de Esportes, serenatas e sanduíches da madrugada, nasceres do sol na Serra de Santa Helena... Os amigos em comum eram os mesmos uns dos outros. As idades se misturavam porque as famílias se conheciam.

 

Quais lembranças da família?

Domingo era dia de comprar revistas na Agência Costa. Me lembro bem do cheirinho bom impresso naquelas páginas... Mamãe, Sandra Karam Rosa (orientadora educacional e habilidosa em diversas artes) colecionava revistas de decoração. Papai, Luciano Franco Rosa (funcionário e instrutor do Banco do Brasil) sempre foi culto e recebia cartões postais de todo o mundo. Dele, ganhei livros e revistas de viagens. Cresci assim, em meio a ideias construtivas e coloridas, incentivada a aprender sobre literatura, línguas estrangeiras e curiosidades diversas. Ali estava a semente da profissão que escolhi.

 

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Infância feliz na Rua João Pinheiro, no Centro da cidade

 

Onde estudou?

Me alfabetizei no “O Pequeno Príncipe” e vivi anos de sonho no maravilhoso prédio do Arthur Bernardes. Uniforme impecável, sapatos brilhantes, cadernos e merendeiras que tinham cheiro de felicidade. Lembranças doces.. No Promove cursei todos os anos colegiais e aprendi muito mais que novidades tecnológicas: passei a entender as responsabilidades sociais, que se confirmariam mais tarde na faculdade.

 

Qual a sua trajetória profissional?

Fiz Arquitetura e Urbanismo na UFMG, onde me formei há 25 anos. Depois estudei “História da Arte e da Arquitetura” e “Arquitetura do Século XX” na Escola de Extensão da Harvard. Morando nos EUA, estagiei em um escritório de Arquitetura em Cambridge. Lá aprendi a importância do planejamento que antecede cada obra. Continuei viajando pelo mundo em busca de conhecimento e vivências, mas sempre atuando como arquiteta em Sete Lagoas, inclusive com envolvimento em ações sociais (creio muito na consciência urbana e cívica que cabe ao arquiteto). Anos depois, pela experiência internacional e participações em projetos assistenciais, passei em processo de seleção do Rotary e fui levada a fazer intercâmbio profissional na Califórnia, EUA, com ênfase na sustentabilidade. Amo estudar. Não quero parar nunca! Sigo em busca frequente por atualizações e aperfeiçoamentos, dentro e fora do país, para trazer o melhor para nossa cidade.

 

O que você acha que Sete Lagoas mais precisa?

Precisamos de consciência e boa vontade por parte dos governantes. Nossa vocação turística é inegável. A beleza natural da Serra de Santa Helena, nossas lagoas, a Gruta Rei do Mato... Temos tesouros incalculáveis aqui, além de localização estratégica. Mas a cidade está carente de cuidados. A infraestrutura não teve a devida atenção quando da rápida expansão industrial que vivemos. A saúde é precária, as escolas públicas são deficientes e há zonas de extrema pobreza e violência. Além disto, me entristece ver a degradação dos poucos prédios históricos que ainda nos restam. Queria ter o poder de revitalizar todos eles. Queria ter de volta a segurança das ruas e os canteiros bem cuidados às orlas de nossas lagoas.

 

 Qual o lugar que mais gosta na cidade?

Mesmo depois de percorrer tantos caminhos e visitar muitas das mais belas cidades do mundo, voltar para casa é refazer meu encantamento por Sete Lagoas. Continuo achando ímpar a beleza do lusco-fusco na Lagoa Paulino. Amo aquele instante em que as luzes se acendem e o céu ainda se reflete, claro e prateado, na superfície da água. É mágico e me renova a certeza: este é meu lugar!

 

Celso Martinelli

 

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