É preciso lembrar o passado

20/02/22 - 07:15

Amauri Artimos da Matta

“O culto e apreciado J. Araújo Cota, em seu artigo de título “Não lhe contaram tudo”, diariamente publicado no grande jornal católico “O Diário”, há poucos dias escreveu: “Obras de História. Pelo seu gênio, seu espírito, porque o Estado de Minas é dos mais ricos em tradição política, artística e espiritual, o mineiro deveria liderar, no País, a literatura de coisas históricas. Vejamos: São Paulo conta 1.859 obras sobre sua história; Pernambuco, 1.120; Bahia, 988; e, Minas Gerais, inclusive folhetos e mimeografias ... 58. É lastimável o descaso. Há desinteresse por parte dos escritores e não há estímulo dos poderes governamentais. Se continuarmos assim, futuramente pouco material nossos descendentes terão para conhecer a história antiga das Minas Gerais, de seu povo, de seus costumes. O tempo tudo apaga, se não houver uma documentação precisa e fiel” (JOVELINO LANZA, Minha Sete Lagoas, Crônicas, pág. 51. Belo Horizonte, Carneiro e Companhia Editores, 1958). 

Assim começa a crônica “É preciso lembrar o passado”, escrita por Jovelino Lanza, em 29-05-1957, para contar o “pito” dado por J. Araújo Cota aos mineiros, pelo “descaso e desinteresse de um povo pelo seu passado e pela sua tradição”. Dez anos depois, o saudoso Dr. Afrânio de Avellar, então Prefeito de Sete Lagoas, instituiu o concurso de monografias para comemorar os anos de emancipação da cidade. Sob o pseudônimo de Mário Lúcio, Jovelino Lanza foi o único candidato inscrito no certame e, assim, presenteou-nos com a importante obra “História de Sete Lagoas (Subsídios)”, que foi editada pela Prefeitura de Sete Lagoas, em 1967, para marcar o centenário de criação do município (24-11-1867 a 24-11-1967). Mostrou que realmente acreditava em tudo o que escrevia, e, em especial, em seu artigo que hoje relembro.

O livro de Jovelino Lanza - História de Sete Lagoas (Subsídios) - juntamente com “O Passado Compassado de Sete Lagoas”, de Joaquim Dias Drummond, como anotou o culto Professor Alfredo Alisson Elian Valadares, ao prefaciar essa segunda obra, “constitui uma das poucas fontes de pesquisa existentes sobre Sete Lagoas” e “há de ser o início de um trabalho consciente de revisão dos nossos valores sociológicos. Julgamos por bem não atualizar os dados por ele coligidos, por volta de 1968. 

Posteriormente, quando seu trabalho tiver continuidade (e eu sou um dos que se propõe fazê-lo), prosseguiremos com a história de Sete Lagoas a partir de 1968” (Joaquim Dias Drummond, O Passado Compassado de Sete Lagoas, Nota do Revisor, pág. 02). Infelizmente, o Professor Alfredo Valadares, que conheci num dos eventos do Clube da Serenata, na década de 90, e por quem sempre tive uma grande admiração, já nos deixou e, pelo que sei, não realizou o seu desejo de atualizar a história de Sete Lagoas. 

A propósito, e para preservar e valorizar a nossa cultura, seria muito oportuno que o poder público municipal pudesse encampar a ideia do querido professor  e incentivar a que outros escritores seguissem contando a nossa história.  E, assim, como fizeram os saudosos Dr. Afrânio de Avellar, quando Prefeito de Sete Lagoas, e os autores Jovelino Lanza e Joaquim Drumond, o governo atual seria protagonista de mais um belo capítulo de nossa história!


AMAURI ARTIMOS DA MATTA é Promotor de Justiça aposentado, diretor do Grupo Mão Amiga e presidente do Coral Dom Silvério

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