Alysson Paolinelli: “Sete Lagoas e região podem evoluir mais”

Alysson Paolinelli - Agrônomo e produtor rural. Concorrente ao Nobel da Paz 2021: Revolução Agrícola Tropical, Sustentabilidade e Paz

22/02/21 - 10:35

O ex-ministro Alysson Paolinelli. Fotos: Arquivo Pessoal
O ex-ministro Alysson Paolinelli. Fotos: Arquivo Pessoal

Celso Martinelli

Nascido em Bambuí (MG), formado na Universidade Federal de Lavras, Alysson Paolinelli foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2021. O ex-ministro liderou a Revolução Agrícola Tropical Sustentável, bem como suas visões para uma produção sustentável de alimentos. Através do desenvolvimento da agricultura tropical no cerrado brasileiro, o Brasil passou a alimentar 1,2 bilhão de pessoas num total de sete bilhões no mundo, promovendo a paz mundial. O nome de Paolinelli recebeu o apoio de mais de 100 cartas de representantes de instituições de 28 países.

Com 84 anos, o ex-ministro divide a sua vida entre a fazenda em Baldim e a sua casa na vizinha Lagoa Santa, além de manter estreitas ligações de amizade em Sete Lagoas, onde é Conselheiro do Centro Universitário Unifemm. Professor, secretário de Agricultura de Minas Gerais por três vezes e deputado federal no período da Constituinte, Paolinelli foi o grande defensor da tecnologia e da inovação e criou 26 representações da Embrapa em várias regiões do país - inclusive a Milho e Sorgo, em Sete Lagoas - durante sua passagem pelo Ministério da Agricultura.

Atualmente, Alysson é presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), embaixador da Boa Vontade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e presidente do Instituto Fórum do Futuro”, ressalta Paolinelli. Confira entrevista:

Como foi receber a indicação, que já é uma vitória por si só?
O cerrado brasileiro antes era terra apenas de fazer distância, onde nada era cultivado. Através do conhecimento, da pesquisa e da evolução, aprendemos a corrigir e a modificar a estrutura química e física do solo. Manejando aquele solo (cerrado), ele se transformou em pouco tempo no mais produtivo e competitivo que o mundo já viu. O Brasil se tornou um grande produtor de alimentos sendo um país da região tropical, área mais faminta e de maior desequilíbrio e motivadora de guerras permanentes, como ocorre nos continentes da África e Ásia. Se analisarmos suas origens (das guerras e conflitos), vamos ver que o principal fator é a fome, miséria e falta de alimentos. Hoje, colhemos o ano inteiro com a agricultura tropical sustentável e permanente. Ganhamos o mercado internacional e somos o maior exportador de alimentos do mundo, em volume e dinheiro. Só a tecnologia, a inovação e processos produtivos podem mudar o quadro atual dos agricultores extrativistas. O país tem hoje sua economia garantida por estratégias adotadas em 1974. Esse prêmio não é meu, é do Brasil, dos produtores, dos pesquisadores, dos extensionistas, dos nossos técnicos, das organizações de políticas públicas...

Fale sobre sua ligação com Sete Lagoas e nossa região. Muitas amizades foram preservadas?
Estou há 29 anos na Fazenda Boa Vista, em Baldim. Vou arrendar outras para plantio de soja e milho, porque em Baldim crio boi para engorda. Sou filiado ao Sindicato Rural de Sete Lagoas com muita honra e participo ativamente dele. Tenho um carinho especial pela nossa Embrapa Milho e Sorgo, que criei, pois trata-se de um dos melhores centros de pesquisa do país. A aceitação que tive nessa região foi muito grande. As famílias de Sete Lagoas e de cidades vizinhas me acolheram muito bem. Tenho vários amigos aí com os quais troco ideias e aprendo com eles. Gosto de ouvi-los, são experientes, o que me traz muita tranquilidade para as propostas e decisões que a gente tem.

Como foi a implantação da Embrapa?
Milho era um os produtos que mais precisávamos desenvolver. Após avaliar todas as condições, vimos que Sete Lagoas poderia atender perfeitamente o objetivo. É uma cidade de médio porte que tem todas as facilidades, como deslocamento e proximidade com o aeroporto. É um dos melhores centros da Embrapa dentre os que existem e fico muito feliz com isso.

Qual sua percepção da cidade e região hoje?
Sete Lagoas tem condições de evoluir mais. O setor da siderurgia hora tá boa, hora tá ruim, isso acontece a vida inteira.  O pessoal daí sabe disso e se prepara para essa oscilação. Mas o grande mote, que podemos ter em Sete Lagoas, é o agrícola. Fico ansioso para que haja uma rápida evolução, que está demorada, tanto no setor de produção de grãos como de irrigação. Vocês estão em uma região de muita água, a “Mesopotâmia Mineira”. Tem o Rio Paraopeba, o Rio das Velhas e tanto outros mananciais que fazem da área aí espetacular. Preciso alfinetar nossos companheiros da região nessa entrevista: vamos promover uma revolução da agricultura local, o potencial de Sete Lagoas é 10 vezes mais do que está acontecendo hoje! Aproveitem as tecnologias que estão disponíveis em todo o mundo e façam dessa região uma grande região produtora.

O que nos falta?
Tudo tem seu tempo. Acredito que chegaremos lá, preciso acreditar. O cerrado brasileiro ficou milhares de anos abandonado e, quando precisamos dele, achamos uma solução. O cerrado está presente em Sete Lagoas e em todos os municípios vizinhos. Temos que tirar melhor proveito desse fator, nosso hortifrúti tem vindo de fora, de outros estados, e não podemos deixar isso acontecer. Podemos produzir em casa. Temos tecnologia para evitar que se faça a degradação das áreas amazônicas, um arsenal para combater esses erros que ainda existem e que podem ser corrigidos.


 

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Em 1978, Alysson Paolinelli recebeu Charles, o Príncipe de Gales, na Embrapa Cerrados. Em visita oficial ao Brasil, o Príncipe foi conhecer o amplo trabalho de pesquisa e inovação agrícola que lá estava sendo desenvolvido. Já naquela época a modernização da agricultura brasileira começou a chamar a atenção do mundo – e a Revolução Agrícola Tropical Sustentável de Paolinelli estava apenas começando.
O PRÊMIO - O comitê organizador vai divulgar até outubro a lista definitiva, quando é anunciada a escolha dos concorrentes. O Nobel da Paz será entregue na primeira quinzena de dezembro, em Oslo, capital da Noruega. O prêmio é concedido anualmente “para a pessoa que tenha feito o maior ou o melhor trabalho pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela manutenção e promoção de congressos de paz”.

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