Lagoa Paulino pede socorro: material orgânico mata lentamente um dos cartões postais da cidade

11/06/21 - 14:40

Fenômeno se chama eutrofização e pode significar a morte de um ambiente aquático após recebimento de material orgânico
Fenômeno se chama eutrofização e pode significar a morte de um ambiente aquático após recebimento de material orgânico

Celso Martinelli

Quem passa pela orla da Lagoa Paulino, na região central de Sete Lagoas, se assusta. E também sente o mau cheiro que vem de dentro de um dos principais cartões postais da cidade. Muito suja e coberta por um lodo verde e espesso, a situação incomoda quem caminha pelo local; e também profissionais do Meio Ambiente.

Segundo a professora Marley Beatriz de Assiz - licenciada em Geografia e Técnica em Química, além de Coordenadora do Subcomitê Ribeirão Jequitibá, vinculado ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) – a Paulino sofre com todo tipo de resíduos, seja líquido ou sólido, e esgoto. 

“A Lagoa Paulino também recebe águas sujas oriundas de escoamento superficial, vindas de regiões mais altas e até mesmo algum esgotamento sanitário clandestino. Desta forma, ocorre um excesso de eutrofização, o que provoca o crescimento de algas superficiais e o aumento da concentração de sólidos suspensos que, depois de algum tempo, sedimentam. Óleos e graxas permanecem na superfície”, explica.

Para Marley, o cenário é mais crítico em alguns pontos específicos do entorno da lagoa. “Próximo da Ilha do Milito, da praça da Feirinha e do Hotel Lago Palace há muita atividade de bares e restaurantes além da lavação de veículos. Próximo à Rua Nestor Fóscolo há um ponto de chegada de águas superficiais que carregam muita sujeira. Óleo de cozinha, detergentes e sabões, urina e embalagens de comida são resíduos recorrentemente descartados”, completou a coordenadora do Subcomitê Ribeirão Jequitibá.

imagem

Uma solução paliativa é a contínua limpeza da superfície. “A retirada das algas e de resíduos sólidos grosseiros tem sido feita manualmente, utilizando redes para a coleta. Um pouco do óleo superficial consegue ser retirado desta forma também. Quanto aos sólidos suspensos, ainda não se encontrou uma estratégia que funcione. Já se tentou colocar Carpas (espécie de peixe) que se alimentam destes sólidos, mas não deu certo. Poderia ser feita uma dragagem, uma filtração, mas é um serviço caro e teria que ser feito continuamente”, explicou Marley Beatriz.

Outra sugestão da profissional é a utilização de aeradores. “Eles movimentam a água e melhoram a capacidade de absorção do oxigênio do ar. Poderiam ser utilizados sistemas similares aos aeradores para realizar a filtragem da água, retirando sólidos suspensos e óleo superficial. Há estudos para a montagem de equipamentos com esta finalidade. Além disso, é imprescindível a Educação Ambiental, a mudança de comportamento das pessoas em relação a interação com a lagoa, bem como o entendimento de que não se pode utilizar este ambiente como depósito de resíduos”, finalizou.

imagem

Biólogo alerta para processo de morte

A eutrofização pode significar a morte de um ambiente aquático, afirmou Damisson Salvador, biólogo e agente da Vigilância Ambiental de Sete Lagoas. “Isso ocorre quando um corpo de água recebe uma grande quantidade de efluentes com matéria orgânica enriquecida, com minerais e nutrientes que induzem o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas.  No caso da Lagoa Paulino, ela recebe esses nutrientes vindos da rede de coleta de águas residuais, seja por ligações de água pluvial na rede de esgoto ou das enxurradas que passam por cima do meio fio e atingem a lagoa”, afirmou. 

Dessa forma, explicou Damisson, as algas se proliferam na parte de baixo da lâmina d’água, sobem para a superfície, recebem a luz solar, realizam a fotossíntese e bloqueiam a entrada de luz. “Posteriormente as algas de baixo morrem e aumenta ainda mais a quantidade de matéria orgânica no fundo da lagoa. Como as algas sedimentam na parte inferior do espelho d’água, os peixes ficam sem oxigênio e também morrem, causando a morte da lagoa.  Lembrando que lagoas hospedam diversos tipos de verminoses que fecham seu ciclo com uso de hospedeiros intermediários como aves e caramujos”, contou.

imagem

No entanto, o biólogo não vê relação com a atividade dos lavadores de carro no processo de eutrofização da Paulino, visto que eles usam baldes para coletar água e não jogam produtos orgânicos na mesma.  “O processo de morte da lagoa pode ser evitado e até mesmo corrigido com a oxigenação, processo que pode ser realizado com a fonte ou com o uso de aeradores. Assim, o nível de oxigênio aumentaria e permitiria a vida da ictiofauna (peixes) no local. Eles iriam entrar em equilíbrio com o ambiente e toda a cadeia alimentar seria recomposta, acabando com as algas da superfície”, concluiu Damisson Salvador.

O QUE DIZ A PREFEITURA
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Turismo informou que a limpeza da Lagoa Paulino é feita diariamente, duas vezes ao dia, de segunda à sexta-feira, por uma equipe da Codesel. “O lodo que flutua sobre as águas em alguns dias é proveniente de decomposição de matéria orgânica pela falta de oxigenação da água. Recentemente tanto o quadro de energia quanto os três aeradores da lagoa que tinham essa função (oxigenar a água) foram furtados. 

A Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Turismo informa que dez novos aeradores já foram comprados e que os equipamentos acabaram de chegar. O SAAE fará a reinstalação do quadro de energia, bem como do novo cabeamento e, em breve, os novos aeradores estarão em operação no local, melhorando a oxigenação da água e reduzindo, assim, o lodo da superfície”, respondeu. A pasta é ocupada pelo advogado Edmundo Diniz Alves.

Veja Mais