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Lange Pinheiro: Achados e Perdidos

29/12/16 - 10:34

Por

 

 

Então naquele fim de tarde, no caos de uma metrópole, lá estava eu esperando o ônibus em mais um cansativo retorno para casa. E foi quando eu percebi que um menino corria de um lado para o outro do ponto, desnorteado, maltrapilho, tentando pegar carona para lugar algum.

 

Aparentando 11 anos de idade, pele clara, cabelos ruivos e arrepiados - uma criança normal, não fosse o pano com cola de sapateiro que ele tentava despistar em vão em uma das mãos e que volta e meia ele cheirava.

 

Quando eu entrei no meu ônibus notei que ele também entrou e com uma voz tremula pediu ao motorista que o deixasse subir sem pagar a passagem, o que lhe foi negado. Mas numa atitude repentina eu disse que ele poderia entrar pois eu bancaria a sua viagem. E com o atrevimento pertinente aos meninos de rua ele passou pela roleta e não me agradeceu, apenas foi para o fundo do ônibus.

 

Então eu sentei-me à cerca de 2 metros dele. Enquanto ele cheirava aquela droga com movimentos descoordenados e um olhar distante, uma senhora do meu lado direito balançava a cabeça como sinal de reprovação. As pessoas tampavam o nariz por causa do cheiro da cola enquanto tentavam ouvir seus mp3, mp4 e o escambau e conversar no zap em seus smartphones de última geração. Ninguém prestava atenção no que estava acontecendo na vida real. Infelizmente a figura daquela criança drogada parecia ser algo normal na rotina dessa cidade estressante.

 

Durante uns 15 minutos eu imaginei muita coisa. Pensei que ali poderia estar o meu filho de 9 anos e o quanto eu gostaria que alguém o trouxesse de volta para casa. Pensei em tudo que aquele menino estaria passando nas ruas e como eu poderia ajudá-lo. 

Confesso que também pensei que ele era apenas mais um lixo da sociedade e que não faria diferença eu tentar mudar seu destino, pois como diz o velho e confortável ditado: uma andorinha só não faz verão. Por fim, pensei que meus problemas já eram o bastante para querer me meter à besta e ajudar os outros.

 

Então ele subiu no banco para dar altura, puxou a cordinha da campainha e desceu cambaleando pela rua.

 

De uma forma ou de outra, aquele menino franzino de camisa listrada no momento que partiu, partiu também o meu coração. Ele me deu uma surra e provocou em mim um arrependimento profundo. Aquele moleque me fez refletir sobre tudo o que a gente quer achar e perder nessa vida. E hoje, o que eu mais queria era encontra-lo novamente em um canto qualquer dessa cidade que tanto maltrata os seus filhos. Queria fazer algo por ele. E o que eu queria perder? Esse medo das idiocrasias da vida, do diferente, do novo.

 

A última imagem que eu tenho dele é de um gesto de agradecimento que ele fez para mim com o polegar direito enquanto o ônibus arrancava. E eu, sem ação naquele momento, apenas pensei: Isso não foi nada garoto, nada mesmo!

 

Por Lange Pinheiro