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Flávio de Castro: Bem-vindo ao inferno!

24/06/19 - 14:26

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O vendedor de buchas estaciona na praça, logo cedo. Buchas claríssimas! Mas além de buchas, a sua bicicleta traz instalada uma poderosa caixa de som. De microfone na mão, ele passa a manhã cumprindo sua sina de fazer pregação religiosa. Uma hora depois, o mundo está convertido; mais uma hora, o mundo está desconvertido; mais uma hora, Deus já é persona non grata na praça e nas suas imediações. Ninguém suporta mais tanta fé. 

 

Vai-se o vendedor de bucha, vêm os carros de som. O problema dos carros de som é que parece que eles rodam apenas na praça e não na cidade toda. Uma, duas, dez mil vezes a mesma coisa. Quer saber qual é o número de cada candidato às últimas eleições? Fale comigo! Quer saber o restaurante mais bacana e mais barato da cidade? Fale comigo! Quer saber onde se vende as mais belas camisolas e lingerie? Fale comigo! Quer saber a programação de shows da cidade? Fale comigo! Eu e meus vizinhos somos especialistas em novidades e promoções.

 

Vai-se a manhã e o vendedor de buchas, vai-se a tarde e os carros de som, vem a noite e a magistral orquestra dos alarmes! Os alarmes têm timbres diferentes. Você pode reconhecer o solo alarmista do primeiro e o seu estiloso movimento, até que ele dá uma pausa. Não aplauda, caro leitor! Não é de bom tom. Espere a entrada do segundo alarme, mais forte e mais grave, e preste atenção em toda a sua evolução. Observe que, nesse concerto noturno em mil horas, eles raramente tocam juntos. Mais uma pausa até a entrada do terceiro. Tenha paciência, o primeiro alarme voltará: ele funciona como um oboé que faz a afinação de toda a orquestra. Uma maravilha! O único problema é que é uma orquestra sem maestro, ninguém aparece pra mandar parar: os alarmes tocam sem- cessar!

 

Vai-se a noite, vem a manhã. Fique tranquilo. Se o vendedor de buchas não vier, virá o cantor apaixonado que se instala eventualmente na praça e compartilha com toda a vizinhança, aos brados, suas desesperadas canções de amor. Se o bardo não aparecer, virá a mulher bêbada e alterada, tirando satisfações com o marido bêbado, depois de mais uma noite na rua. Se a mulher não vier, outro espetáculo haverá. Sempre há, até que os carros de som comecem a rodar. O centro de Sete Lagoas não para. Com essa sonoridade, o centro de Sete Lagoas parece o céu. Mas não se engane: bem-vindo ao inferno!

 

Flávio de Castro

fjrcastro@gmail.com / flaviojose.blogspot.com

 

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