Flávio de Castro: Até breve!

26/08/19 - 10:01

Flávio de Castro
Flávio de Castro

Acho que já disse isso aqui. Há muitos anos, o padre Antônio – depois, monsenhor e bispo – fez uma analogia, em sua homilia, que jamais esqueci. Ele usou uma figuração: a do pintor que, depois de se esmerar num pequeno canto de seu quadro, precisa dar um, dois ou três passos atrás para compreender a totalidade e o sentido daquelas pinceladas. Segundo ele, também nós, após algumas tintas no canto de nossas vidas, precisamos dar um, dois ou três passos atrás para compreender o nexo do nosso pequeno cotidiano na amplitude de nossa existência. Talvez seja essa a razão, caro leitor, para eu me afastar temporariamente desta coluna do SETE DIAS.

 

Eu escrevo por paixão. Acho que também já disse isso aqui. Escrever uma coluna semanal em um jornal é fascinante. Você lida o tempo todo com o imaginário. A própria existência ou não de um leitor faz parte desse imaginário. Você escreve ao vento sem muita convicção de que aquelas palavras irão a algum lugar. Quando, ocasionalmente, alguém se zanga com a sua opinião ou quando alguém lhe elogia na fila do supermercado, você entende que algo invisível está acontecendo. Mas é sempre invisível. Por isso, você busca sentido mais em você mesmo do que nesse leitor imaginário. Isso inquieta!

 

Eu ganhei fama de esquerdista aqui. Acho uma fama super justa: tem apenas 8 anos que escrevo no SETE DIAS, mas tem quase 50 que sou um esquerdista confesso e praticante. Nada mais natural, portanto. Ser esquerdista já teve o seu prestígio. Hoje, não mais! Hoje você apenas integra, involuntariamente, aquele time de vermelhos que, segundo o senhor presidente, deve ser exterminado. Eu sou, assim, um animal em extinção. Animais em extinção precisam andar com cuidado ou, no caso, escrever com cuidado.

 

Eu sempre gostei de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Isso é bom e é ruim. Por um lado, fazer muitas coisas pode tornar a vida mais divertida. Por outro, você pode fazer mil coisas, mas nenhuma delas suficientemente bem-feita. Daí o porquê, às vezes, da necessidade de dar um, dois ou três passos atrás, focar nas coisas que andam lhe sobrecarregando, aliviar um pouco a carga e refletir sobre o sentido dessa vida louca e desvairada. É isso que pretendo fazer. Se Deus quiser (e são Chico e são Léo também), adiante eu volto. Sendo assim, deixo aqui, não um adeus, mas um até breve!

 

Flávio de Castro

fjrcastro@gmail.com

 

Flávio de Castro

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