Entrevista Aristides Cabral de Souza - 'A ACI é a minha segunda casa, são laços fortes'

18/02/20 - 12:00

Suave no tratamento com as pessoas, comprometido com as causas que abraça. Aristides Cabral de Souza vai além de conceitos básicos. Nascido no distrito de Conselheiro Mata, Diamatina, foi ao Rio de Janeiro, voltou a Minas e fez de Sete Lagoas a sua cidade de coração e da Associação Comercial e Industrial (ACI) a extensão de sua casa e de sua própria história, como revela nesta entrevista ao SETE DIAS. Aprecie.

 

Conte suas origens, por favor. 

Durante algum tempo fiquei fazendo curso no Seminário de Diamantina e cheguei até o 1º ano de Teologia. Cheguei à conclusão de que essa não era a minha vocação. Voltei para Conselheiro Mata. Através de um amigo, tentei um vestibular para Engenharia no Rio de Janeiro. Infelizmente eu não pude fazer o curso de Engenharia porque a minha família não tinha a menor condição de me manter no Rio e nem eu tinha emprego para me sustentar. Em Belo Horizonte  fiz uma prova no antigo Banco de Minas Gerais com contrato de experiência de três meses como praticante. Ocorreu uma greve geral dos bancários. Era um sindicato forte à época. Eu ia para o trabalho todos os dias pela manhã e não me deixavam entrar. Eu trabalhei apenas pouco mais de um mês. E a minha carteira tem esse registro de janeiro de 1952  em que eu me demiti por livre e espontânea vontade. 

 

Quando é o encontro do senhor com Sete Lagoas? 

Meu encontro com Sete Lagoas se deu pelo fato de após eu não ter sucesso no meu sonho de ser engenheiro, eu fui para Belo Horizonte, onde prestei concurso no Departamento de Estradas e Rodagem de Minas Gerais (DER-MG). Ofereceram-me para substituir um funcionário de Montes Claros que estava prestes a se aposentar e iria sair de férias. Eu era solteiro, não conhecia nada. Aí eu fui. Foi uma aventura. Não tinha nada a ganhar, nem a perder. Isso foi em 8 de setembro de 1954. Eu fui admitido no Departamento de Estradas e Rodagem como auxiliar administrativo e, graças a Deus, fui galgando postos e, ao me aposentar, eu já tinha uma outra classificação. Em Montes Claros eu conheci a minha esposa. Foi um namoro, um noivado assim  de curtíssimo prazo. Eu me casei e vieram os filhos, muito próximos uns dos outros. E permaneci por lá, no DER. Até que fui convidado para vir para Sete Lagoas para a fundação da Lagoa Veículos. Então eu vim para Sete Lagoas em maio de 1972. Vim sozinho. Fiquei um ano, vinha para Sete Lagoas na madrugada de segunda-feira e retornava nos sábados durante todo o ano. Em 1973 resolvi trazer toda a família e aqui estamos até hoje, de junho de 1973 até agora, janeiro de 2020.

 

Ao longo dos anos, o nome do senhor se confunde com a história da ACI. Como o senhor recebe isso, sente isso? 

Percebo através do respeito desde o início de todos os dirigentes. Se não me engano, desde que iniciei passaram sete presidentes. Não estou muito certo agora. Nunca faltou vontade para que a Associação Comercial fosse protagonista da história de Sete Lagoas. Essa foi a minha preocupação. Eu nunca me considerei gerente ou chefe de nada. Fui lá para colaborar na medida do possível como foi a minha promessa ao Chico L’Abbateatte e ao Antônio Pontes. 

 

Ninguém melhor do que o senhor para falar sobre fatos marcantes e históricos na ACI. O que o senhor viu de mais importante? 

O que vi de mais importante, sempre, em todas as diretorias, em todos os dirigentes, foi a vontade de servir. Eu sou testemunha viva de que nos últimos três anos o quanto os diretores, liderados por seus respectivos presidentes, lutaram para que não morresse aquela chama que foi acessa em 8 de janeiro de 1936, quando foi feita a reunião para a constituição  da Associação Comercial. Tudo o que aconteceu em Sete Lagoas teve a colaboração ou foi protagonizado pela Associação Comercial: o primeiro semáforo de trânsito de Sete Lagoas na rua Olavo Bilac exatamente naquela esquina onde está localizada a Drogaria Lobato,. a primeira tabela de corrida de chofer de praça  de Sete Lagoas foi elaborada na Associação Comercial, a criação da primeira agência do Banco do Brasil, da Embrapa, que era com outro nome – IPEACO – a  vinda da Iveco para Sete Lagoas, quando era governador Eduardo Azeredo e o presidente da ACI Alberto Medioli,  a firme disposição do presidente L’Abbatebate Neto de conseguir a duplicação da BR-040  no trecho Sete Lagoas-Belo Horizonte. Outra grande campanha que contou com a simpatia regional foi o projeto de extensão ferroviária de Pirapora a Brasília passando por Unaí, Cabe ressaltar aqui o papel exercido pelo jornalista Márcio Vicente, correspondente do Diário do Comércio em Sete Lagoas, que diariamente noticiava sobre esse grande projeto. Era a época do boom agrícola do Centro-oeste mineiro e também com o Centro-oeste do Brasil. Mais recentemente, a campanha da duplicação da MG-424, que é a pedra no sapato. O dirigente de uma multinacional, vindo do Aeroporto de Confins para Sete Lagoas,  comentou com alguém que estava com ele que a sensação (ao transitar pela MG-424) era de que estava sendo sequestrado, dada a precariedade da estrada. Chegou a haver um estudo, um projeto, mas não houve a concordância dos municípios que são abrangidos pela MG-424 por questão de pedágio. Alguns não concordaram e a ideia voltou à estaca zero.

 

Hoje, como o senhor avalia o futuro? 

Hoje há muitos projetos na entidade, como a ACI Jovem, o Grupo Helenas que é constituído por mulheres empreendedoras, que elas são, no bom sentido, ousadas, não conhecem barreiras, já viajaram boa parte do Brasil divulgando Sete Lagoas e o projeto– já que não deu certo a duplicação da MG-424 – que liga diretamente Sete Lagoas ao Aeroporto de Confins. 

 

O que significa para o senhor a relação com a ACI? 

É a minha segunda casa, especialmente depois do falecimento de minha esposa. São laços firmes. Para desfazê-los, é preciso romper algo muito forte. Quero agradecer a todos os presidentes, diretores, conselheiros e associados, pela maneira generosa com que me acolheram na ACI, ao longo dos últimos 30 anos. Agradecer, também, a colaboração de todos os meus colegas de jornada,- de modo especial, a Superintendente Administrativa, Heloisa Diniz Fróis,  que, com paciência, me ajudaram (e muito ), no desempenho de minhas atribuições.

 

Quem é?

Aristides Cabral de Souza nasceu em Diamantina (MG), tem 88 anos, é advogado pela Faculdade de Direito do Norte de Minas, formado em 17 de dezembro de 1971. Filho de  Antonio Cecílio Cabral e Sinforosa da Conceição, é viúvo de Aída Magalhães de Souza, com quem conviveu por 57 anos. O casal tem os filhos Tânia Olívia Magalhães de Souza, Thelma Cristina Magalhães de Souza ,Tady Sérgio Magalhães de Souza e Taida Cássia Magalhães de Souza. Aristides Souza é avô de Gladmir Júnior, Chrystian Magalhães, Luana Cássia, Thiago Magalhães, Diego Magalhães, Pedro Henrique, Bárbara, Brenda Lectícia e Caroline Aída e bisavô de Maria Valentina, Heitor e Lívia. 

 

Caio Pacheco

 

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