Afaste de mim esse cálice

Se você atrela à Semana Santa apenas memórias vinculadas a ovos de páscoa, final da quaresma ou comer peixe na Sexta-Feira da Paixão, não imagina o quanto de aprendizado precioso está perdendo.

30/03/24 - 09:00

O período é um vasto campo de sabedoria, pelo qual devíamos dedicar o máximo de compreensão.


Para começar, tiremos todo cunho da religiosidade, mantendo apenas o entendimento da narrativa dos fatos e suas entrelinhas, filtrando-os com nossos próprios sentimentos, sem intervenções ou direcionamentos doutrinários.
O lapso temporal abrange a última semana da vida de Cristo, em uma breve retrospectiva que se inicia no Domingo de Ramos e termina no outro Domingo, com a sua ressureição.
Sim, Ele morre. Desculpe pelo espoler se você ainda não conhecia a narrativa
Me deparei com um infeliz momento de desanimo existencial ao ponto de dizer em uma conversa que “nem Jesus houvera conseguido vencer o sistema, pois ele morre no final”.
Pela graça do bondoso Pai, estava diante de uma pessoa abençoada, que de pronto me respondeu: “Sim, mas em nenhum momento Ele se esquivou da missão que recebeu”.
Deparado com tal percepção, compreendi enfim a grandeza do que Ele fez em sua passagem terrena.
Percebi que o diabo é o ser mais inteligente, contudo, Jesus é de longe o mais sábio.
Sim, sabedoria é maior que inteligência. Ela geralmente aparece no final, quando contrariando todas as previsões, brota do inesperado e aponta o resultado amplamente satisfatório.
O diabo foi inteligente ao ponto de conseguir infiltrar ao lado do filho de Deus alguém que faria todo o serviço sujo. 
Cristo não foi pego por escribas, fariseus, ou outro perseguidor. Ele foi entregue por um dos seus, Judas, que comia a sua mesa e fora identificado como ponto falho pelo inteligentíssimo satanás.


Mas e a sabedoria do Filho do Homem?
Está em justamente permitir que os planos de seu inimigo se concretizassem, mas somente no momento certo.
Perceba que Jesus passou os três anos de sua peregrinação “fugindo” da morte. Não foram poucas as passagens que ele teve que bater de retirada para não ser pego.
“Fugiu” de uma cidade para outra, do seu povoado natal, pelo mar, pelas montanhas....fugiu, fugiu fugiu....
“Temia” tanto morrer, para alegria do seu algoz satânico, que chorou em sangue e pediu ao Pai:
“Ele avançou um pouco, curvou-se com o rosto no chão e orou: “Meu Pai! Se for possível, afasta de mim este cálice. Contudo, que seja feita a tua vontade, e não a minha”.(Mateus 26:39)
E no momento mais fácil de escapar, quando estava amparado por inúmeros seguidores, ele.... se entregou!
Sem nenhuma reação, sequer verbal.
Ali Ele dava o cheque mate. 
Volte nas passagens bíblicas e leia o que não está escrito.
Do momento em que, ao invés de continuar a fugir, Jesus se entrega pacatamente, a lógica comportamental ao redor fica invertida, e todos, inclusive os inimigos, fazem de tudo para que ele se liberte.
Como assim????
Na hora que Jesus se rende, Pedro corta a orelha do soldado, possibilitando a fuga. Depois, foi levado para Pilatos, maior autoridade, que se negou a prende-lo e o encaminhou para Herodes, sob o argumento de que ele, Herodes, deveria resolver a questão.
Herodes não condenou Jesus e o devolveu para Pilatos. As duas autoridades solicitaram apenas uma mínima manifestação de Cristo em sua defesa para solta-lo. 
E para que isso não acontecesse, Jesus se silencia pois na verdade, ele nuca fugira. Por todo o tempo preparou o terreno para a sua gloria triunfal.
Foi devolvido a Pilatos, pela segunda vez, que insistiu em não haver evidências, bastando sua autojustificativa. Ele nada falou, nada negou ou defendeu.
Deixou que o povo escolhesse entre Ele e Barrabás. Não havia mais volta e o diabo caia na própria arapuca que armou. 
Jesus morreria e exatamente isso o eternizaria.
Errata: Ele morre, mas só no meio, não no final. 
Diferente de todos os outros deuses, ele provaria sua supremacia sobre o bem e o mal vencendo a morte com sua ressurreição.
Estamos há 2024 anos do seu nascimento, 1991 da sua morte, conforme o calendário Cristão, em sua homenagem.


Ele continua bem vivo, porque jamais poderia ter provado sua eternidade sem que levasse o belzebu ao fatal erro de mata-lo como homem.
É o que acontece quando fazemos o que deve ser feito. 
Algo transcende a nossa existência e perpetua além da breve passagem pela vida, seja na memória de alguns ou na mudança de rota da própria história.
Dá-se o nome de legado o cumprimento da missão por aqueles quem empunham o cálice recebido, por mais amargoso que seja o seu conteúdo.
Pode não fazer sentindo para os outros. Mas quem falou que a lógica do homem faz sentindo diante os planos que Deus atribui?
Se está difícil, ore a Deus que te afaste, mas se for preciso, conforme a vontade Dele, assim com Jesus,  carregue seu cálice até o fim, pois a graça será transbordandemente maior que a dor.
Amém!

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