Crônicas

Élida Gontijo | O baile dos mascarados

23/10/20 - 15:00

Por Élida Gontijo

A máscara tampou minha boca, prendeu meu sorriso. Minha coleção de batons se tornou desnecessária, encontro pessoas pelas ruas que não me reconhecem, pois a minha marca é meu sorriso solto.

 

Ela calou minha voz, quis silenciar a minha revolta com tantas desigualdades sociais, tirou um pouco do meu prazer de sentir a fragrância da vida. Afastou as crianças e os idosos sorrindo com os primeiros dentinhos ou mesmo com os poucos que restam. É preciso sorrir com os olhos.  

 

Conseguiu esconder minhas linhas de expressão , o que não me incomodava , fazem parte da minha história, não quero tirá-las, tem todo um enredo entre elas. Tornou-se parte do vestuário e mais uma peça que some assim como as chaves, celular etc.

 

Agora mesmo seremos identificados pela cor ou estampa que elas trazem,como aquela da máscara de florzinha ou mesmo de um personagem favorito. Estamos bem parecidos e ao mesmo tempo irreconhecíveis, podemos passar despercebidos por alguém que queremos evitar em algum momento da vida.

 

Os beijos foram reprimidos, cotovelos se encontram num toque suave. O baile dos mascarados continua por tempo indeterminado entre eles sigo meu caminho.

Élida Gontijo- outubro de 2020.

Élida Gontijo

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