Dez por Um | Ser justo nem sempre significa ser bom

O que deve prevalecer: a justiça ou a bondade?
Joaquim Carvalho certa época romantizou a questão ao dizer que “entre a justiça e a bondade, a razão entra na liça: mais vale a justiça cega, que a bondade sem justiça.”
Certamente que o cenário ideal é quando as duas se equivalem no mesmo peso e medida. Nada melhor que praticar a bondade com a tranquilidade de que junto está aplicado o bom senso da justiça.

Porém, no plano da realidade isso nem sempre será possível, havendo circunstâncias em que o justo não será bom ou o bom não será justo, o que levará a insatisfação daqueles que não conseguem distinguir uma coisa da outra. 
Haverá, por conseguinte, a confusão e inversão dos valores, mediante a condenação sumária por parte destes do bondoso como “justo” e do “cruel” como injusto, o que não é uma correspondência exata. 

Antes de dar a resposta, é necessário entender o significado de cada uma. A bondade, por seu lado, é algo subjetivo, afinal de contas o que é bom para um, pode não ser para o outro. Por isso, para facilitar a definição mais próxima, melhor será a busca pelos olhos de quem oferece, ao invés dos de quem recebe.
Ela está relacionada a virtudes como generosidade, empatia, benevolência, gratidão, compaixão, filantropia, misericórdia, piedade, caridade, clemência, humanidade e todas as outras que tem como objetivo causar o bem ao outro, mesmo quando não há merecimento.
Santo Agostinho dizia que “não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia” e teve seus pensamentos contemplados por Joseph Joubert, quando o francês afirmou que “bondade é amar as pessoas mais do que elas merecem”.

Seguindo por desdobramento, encontra-se bondade em atitudes como o agradecimento sincero, o não julgamento, quando se pensa positivamente nas outras pessoas, no bom trato, na ajuda gratuita sem a espera da contraprestação, no encorajamento, ao estar presente nos pequenos e grandes momentos e principalmente ao agir de maneira diversa e contrária com quem lhe casou mal.

Do outro ponto, para Platão, a “justiça era o equilíbrio entre as partes”. Kant pensava que “justiça é somente a ação sob cuja máxima a liberdade de arbítrio de cada um pode coexistir com a liberdade de todos”. 

Por essa linha, facilita a compreensão do que seja justo, como aquilo que garanta o exercício dos direitos individuais, protegendo simultaneamente os diretos da coletividade, partindo do fato de que existe uma “tabela” genérica do que deve ser ou não ser feito e qual é a consequência aplicável para aqueles que desrespeitam essas diretrizes. Para isso existem as leis e as normas: facilitar a aplicação da justiça, ao estabelecer os limites da não invasão do espaço alheio e o como proteger quando ele é ultrapassado.

A legislação nada mais é do que o conjunto de atos já acontecidos por reiteradas vezes, que dada a previsibilidade dos resultados, estipula o que deve ser feito na hipótese da sua ocorrência.

Portanto, se alguém lesar outra pessoa, por exemplo, já está determinado qual será a justiça a ser imposta, conforme a lesão ocorrida, as circunstâncias em que aconteceu e os danos acarretados.  

Basta seguir a lei, que é o manual prático da justiça. Gostando ou não, ali estão as diretrizes regentes da vida do todo, já que foram teoricamente estabelecidas pela maioria. Por conseguinte, tanto a justiça quanto a bondade têm que ter como parâmetro a sociedade e as pessoas comuns e não aqueles que se idolatra ou tem-se como referencial do ideal. 

Sendo assim, resta de fácil confirmação as constatações iniciais de que nem sempre a bondade será justa. Contudo, a melhor parte é que se for do querer de quem faz, a justiça sempre poderá ser aplicada de forma bondosa, ainda que nos rigores da lei. 

Ser justo, nem sempre significa ser bom, mas toda a justiça pode ser feita com atos de bondade.

TUDO ISSO EM DEZ MINUTOS E NEM UM SEGUNDO A MAIS!