Dia Internacional da Mulher - Respeitem nossos corpos

08/03/22 - 09:55

Reprodução/Rodrigo Fernandes
Reprodução/Rodrigo Fernandes

por Márcia Brandão Raposo*
Jornalista, ativista e conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sete Lagoas (CMDM)

 

A semana terminou e começou com uma polêmica indigesta provocada por um certo deputado de São Paulo, que não se sabe ainda a razão, foi dar um passeio pela Ucrânia, país tomado por doloroso conflito com a Rússia, no qual estão intimamente dividindo responsabilidades a OTAN, os Estados Unidos e a União Europeia. Nas suas andanças, tal homem encontrou mulheres fragilizadas pelo medo da guerra, mas não viu nelas o sofrimento. Em sua mente machista e perversa, se enxergou apropriando-se de seus corpos para o prazer sexual. E decretou, num áudio amplamente divulgado no Brasil, que “as ucranianas são fáceis porque são pobres”. 

Mais revoltante este comportamento se torna quando ele acontece às vésperas do Dia Internacional da Mulher, que não é uma data para se comemorar com flores e exploração comercial. Mas para se refletir sobre as especificidades que provocam a luta das mulheres, como esta que está na cabeça e no agir do senhor deputado, a da violência sexual. Mulheres que lutam por conquistar direitos e por eliminar a cultura patriarcal que nos enxerga e usa como subalternas aos mandos masculinos, incluindo o sexual, sabem que até meninas são barbaramente estupradas por estes homens doentes. 

Num artigo sobre o 8 de Março, que neste ano tem como tema no Brasil  “Pela Vida das Mulheres – Bolsonaro Nunca Mais – Por um País sem Machismo, Racismo e Fome”, eu poderia falar sobre situações diversas que perpassam a vida das mulheres e são a parte ainda oculta e muito dolorosa do universo feminino. Como violência doméstica, feminicídio, disparidade de gênero, androcentrismo, mansplaining, Lei Maria da Penha, as opressões das mulheres pretas, e tantas mais. Mas a polêmica criada pelo deputado me obriga à abordagem de uma sórdida prática: a violência sexual em suas formas diversas. 

Nas guerras as mulheres e meninas são mais vulneráveis e transformam-se em escravas sexuais. O testemunho sobre estas ocorrências foi dado pelo repórter de guerra Jamil Chade, num artigo que nos rasga o estômago e o coração. No entanto, é preciso denunciar uma guerra aqui no Brasil, que não sai nos noticiários, contra mulheres indígenas, meninas amazônidas e nordestinas violentadas num contexto de exploração da pobreza, tráfico sexual, exploração sexual  de crianças e adolescentes, estupro de domésticas em seu local de trabalho. Práticas cotidianas de homens perversos.

 A violência sexual tem definição pela Organização Mundial de Saúde (OMS): “todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou insinuações sexuais indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de qualquer outro modo a sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa, independentemente da relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de trabalho”. Ela pode ocorrer de “diversas formas e por meio de diferentes graus de força, intimidação psicológica, extorsão e ameaças”. Como o estupro coletivo, o estupro contra mulheres que não estavam em condições de dar consentimento ao ato, se  estão sob o efeito de álcool e outras drogas. E a forma repugnante de ato sexual em mulheres e meninas física e mentalmente incapacitadas de compreender a situação. 

A sociedade não pode mais fugir deste debate. A violência sexual precisa ser combatida. Nós, mulheres, não podemos nos calar. Meninos, adolescentes, homens adultos têm que ser educados sobre sexo e sexualidade. A mulher violentada precisa ser acolhida e atendida com respeito nos espaços públicos de saúde, segurança e judicial. Nossos corpos devem ser respeitados.

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