Um ensinamento novo, e com autoridade

31/01/21 - 08:07

Por Padre Evandro Bastos

Padre Evandro Bastos

Assim como há muita luz em nosso ser, criatura do amor misericordioso, há também muitas vozes inquietas, interpeladoras, gritantes. Temos muitos dons e capacidades geradoras de vida e muitas sombras, falas de morte, muitas arrogâncias humanas, invejas e medos do real enfrentamento de nós mesmos.

É preciso uma força interior, uma autoridade existencial centrada e focada na essência do ser, uma capacidade de manter-se integrado, para não se perder diante das vozes que gritam para nos tomar de nossa consciência e felicidade. Inúmeras condições, sobretudo nestes tempos inquietantes de pandemia, acentuam gritos desumanos, odiosos, amedrontados e desviantes. Trata-se de gritos de fuga, gritos de negação, gritos de minimização, de manias de superioridade e julgamentos preconceituosos.

Quando o Evangelho conta de um homem com espírito impuro que grita questionando Jesus dentro da sinagoga, ele não relata um simples fato de um possuído que pede socorro para libertar-se. A cena parece ser uma sequência factual e nos promove dispersão fácil para um teoria demoníaca que se apodera dos seres. Parece estar entrando em um campo espiritualista de possessão e manifestação maligna. Isso é mais fácil de defender e entender.

No entanto, a proposta avança para uma oportunidade rica de caminhada com Jesus. Parece simples, mas não é fácil controlar nossas vozes interiores. Elas querem castrar nosso movimento e impedir nossa centralidade nas causas que abraçamos, nos sentidos de vida que encontramos, na essência que nos constitui e sempre refaz.

Responder com autoridade, “Cala-te!”, é ter domínio sobre as manifestações que inconscientemente tentam se sobrepor, mantendo-se na escolha realizada e no projeto transformador abraçado. “Que queres de nós?” pergunta a voz que nega sua própria condição relacional e presencial na história e na vida de cada uma, de cada um de nós. São nossa mazelas que precisam ser assumidas, trabalhadas e resignificadas. Elas também fazem parte do nosso ser.

Assim, amigos leitores, não percam a autoridade sobre sua vida. “Um ensinamento novo e com autoridade” mora em cada uma, em cada um que não se esconde, não se nega, não foge de si. Antes, busca encontrar-se!