Coluna Católica | Meu humano e contraditório ser

27/09/20 - 08:00

Deparamo-nos continuamente com reações humanas muito controversas. Todos os dias vejo nas redes sociais, a fala humana em suas contradições constantes. Penso que também devo incorrer nesse movimento que é próprio da nossa fragilidade e condição. Ser coerente é um desafio constante. Muitas vezes, de forma inconsciente, falamos algo e agimos completamente diferentes daquilo.

 

Uma das maiores contradições se dá nas escolhas que rapidamente revelam nossas falas contraditórias. Falar, tematizar, dizer sobre um projeto de vida é muito racional. Damos conta de elaborar discursos e organizar mentalmente argumentação lógica para expressar objetivos profundos de sentido para nossa vida. Para exemplificar: quando alguém escolhe um tema para sua vida, sua atuação política ou religiosa, há um longo processo de reflexão, estudo e construção simbólica em torno daquele lema. Esse é um processo racionalizado e muito prático. Diferentemente, quando as demandas diárias começam a insistir numa resposta imediata, às vezes não dá tempo para pensar muito, estudar e refletir sobre os pedidos, e é então que nos perdemos.

 

Nossas frases, falas e expressões dizem muito de nós. Dizem, sobretudo de nossas crenças que podem ser profundamente limitadoras, escondendo condições não amadurecidas ou revelando nossa infantilidade e desejo de poder. Quando Jesus conta a história daquele que diz “Sim” e não cumpre sua palavra, e do outro que é congruente, diz “Não quero”, mas repensa e transforma sua vida pela mudança, ou conversão de sua ação, Ele está dizendo desse nosso contraditório humano ser. Podemos mudar! E podemos ser coerentes repensando e reinventando nossas máximas para uma verdade que primeiramente é interior, e que para ser transcendente passa pelo nosso testemunho de relação com os outros.

 

Considerando quão instigante é pensar o potencial de transformação que temos oportunidade de viver, bem como nossa condição existencial muito incoerente, mas capaz da conversão, faz a “Vontade do Pai” aquelas e aqueles que estão abertos à mudança. Estar pronto e fechado às mudanças constantes da vida é perder de vista nossa própria história. É reduzir-se à mediocridade, arrogância e prepotência. O humano é frágil, contraditório, mas profundamente capaz daquilo que mais deseja: Amar e sentir-se amado.

 

Evandro Bastos

evandroabastos@yahoo.com.br